O painel — com a presença de Jonathan Pingle, UBS, Ben Harris, Brookings Institution, Joseph Lavorgna, Counselor to the Treasury Secretary, US Treasuary — apresentou uma análise detalhada do cenário econômico dos Estados Unidos, com foco nas projeções de crescimento, inflação, política fiscal e monetária, bem como nas implicações do debate jurídico sobre o IEEPA (lei que fundamenta parte das tarifas impostas pelo governo). Os economistas convergiram em um diagnóstico de curto prazo desafiador, com riscos de desaceleração econômica combinada a uma inflação ainda persistente — quadro que mantém o Federal Reserve sob forte pressão para preservar uma postura restritiva (taxa de juros acima da neutra). O painel trouxe uma visão mais pessimista sobre o panorama econômico dos EUA.
No campo das projeções macroeconômicas, os painelistas destacaram que, após o crescimento de 3,8% no terceiro trimestre, há risco de uma forte desaceleração no quarto trimestre, possivelmente para cerca de 1%, à medida que os efeitos plenos das tarifas se materializam. Essa perda de tração se somaria à tendência de inflação mais alta nos próximos 12 a 15 meses, criando o cenário clássico de “stagflation risk”. O consumo segue sustentado por estímulos fiscais pontuais, mas as famílias de renda mais baixa já enfrentam deterioração nos balanços — inadimplência crescente em crédito estudantil, automotivo e cartão, e poupança próxima de limites.
Apesar dessa fraqueza, há expectativa de impulso fiscal temporário em 2026, com devoluções tributárias e créditos direcionados equivalentes a cerca de US$ 90 bilhões no primeiro semestre, aproximadamente 0,6 p.p. de PIB, o que deve suavizar o impacto negativo no consumo em um momento politicamente sensível, às vésperas das eleições legislativas. Ainda assim, o custo será um aumento de US$ 4 trilhões na dívida pública, elevando o déficit para mais de 5% do PIB e reforçando a preocupação estrutural com a sustentabilidade fiscal e o aumento do term premium nos juros longos.
Os economistas ressaltaram que o Fed deveria manter juros elevados por mais tempo, mesmo diante da desaceleração, para evitar reacender expectativas inflacionárias de curto prazo, especialmente se os consumidores interpretarem os aumentos de preços tarifários como um novo ciclo de inflação estrutural. O mercado de trabalho, que não gera vagas privadas há cinco meses, reforça o quadro de fragilidade. O setor imobiliário também segue em retração, com estoques elevados e demanda contida.
No campo político e institucional, destacou-se a relevância do debate sobre o IEEPA (International Emergency Economic Powers Act). Caso a Justiça invalide as tarifas impostas sob essa lei, o painel acredita que o presidente Trump encontrará meios alternativos para manter tarifas efetivas em torno de 15%, seja por via administrativa ou por nova legislação. Para os analistas, isso reforça a percepção de que o regime tarifário se tornou estrutural e duradouro, com efeitos de segunda ordem ainda por vir — realocação de cadeias produtivas, perda de competitividade e menor inserção global dos EUA.
A discussão sobre IA apareceu como contraponto de médio prazo: os investimentos — hoje na casa de US$ 1 trilhão anualizado — podem sustentar ganhos de produtividade nos próximos 5 a 10 anos, mas os painelistas concordaram que os efeitos sobre o PIB e o mercado.
Por fim, o tema da independência do Federal Reserve emergiu com preocupação. Houve consenso de que o novo presidente do Fed poderá enfrentar restrições políticas, com risco de “captura parcial” da instituição, especialmente se for pressionado a seguir uma trajetória de juros pré-comprometida. Apesar disso, os economistas acreditam que a credibilidade técnica e institucional do Fed e o interesse político em conter a inflação manterão alguma disciplina na política monetária.
Perguntas e Respostas rápidas:
- Próximo presidente do Fed? Não foi identificado quem será o sucessor.
- Taxa de juros dos Fed Funds em 2026 abaixo de 3%? Baixa, ou seja, a taxa deve permanecer acima desse patamar.
- Probabilidade de recessão em 2026: entre 20% e 45%.
- Probabilidade de a inflação estar acima de 3% em 2026: 100%.
- Probabilidade de crescimento do PIB acima de 3%: bastante baixa
- Probabilidade de o déficit fiscal em 2026 ficar abaixo de 5% do PIB nominal? Zero.
- Influência da Casa Branca sobre a política monetária em 2026? Considerada não significativa.
- Partido com maior probabilidade de vencer as próximas eleições presidenciais? Democratas.
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