A arte de fazer política monetária em países emergentes

A evolução da política monetária nos mercados emergentes tem exigido uma nova abordagem por parte dos formuladores de política econômica. Esse foi o ponto central do painel “The Evolving Art of Monetary Policy in Emerging Markets”, que reuniu vozes experientes como Gita Gopinath (Primeira Sub-Diretora do FMI), Lesetja Kganyago (Presidente do Banco Central da África do Sul), Raghuram Rajan (Universidade de Chicago) e Eli M. Remolona, Jr. (Presidente do Banco Central das Filipinas). O debate focou em como os bancos centrais de países emergentes devem reagir aos choques recentes: pandemia, guerras, tarifaço e incertezas geopolíticas.

Resiliência e novos desafios para os bancos centrais de mercados emergentes

O painel reforçou que os bancos centrais dos mercados emergentes demonstraram resiliência admirável nos últimos anos, consolidando uma reputação de seriedade e profissionalismo frente a choques extremos. No entanto, os desafios persistem e devem se intensificar.

A crescente frequência e assimetria dos choques exige uma política monetária mais sofisticada, capaz de se comunicar bem com múltiplos públicos e adaptar-se rapidamente às novas realidades econômicas. Mais do que nunca, a independência dos bancos centrais precisa ser defendida não apenas juridicamente, mas também no espaço público, preservando a estabilidade econômica a longo prazo.

Principais recomendações para a política monetária nos mercados emergentes

Para fortalecer a atuação dos bancos centrais diante de cenários desafiadores, foram destacadas algumas recomendações essenciais:

Defesa da independência dos bancos centrais: Ancoragem institucional é crucial, mas depende de apoio político e social contínuo.

Comunicação estratégica: A mensagem deve ser clara, proporcional e adaptada a públicos variados, reforçando a confiança na política monetária.

Uso criterioso de ferramentas não convencionais: Medidas como intervenção cambial ou controle de capitais são legítimas, mas devem ter critérios e limites bem definidos.

Alinhamento fiscal e monetário: A coordenação entre política fiscal e monetária é vital para garantir a eficácia da política macroeconômica.

Análises dos especialistas sobre política monetária em mercados emergentes

Gita Gopinath e a natureza desinflacionária dos choques comerciais

Gita Gopinath destacou que os choques gerados pelo tarifaço têm um caráter desinflacionário, sobretudo em economias emergentes. Ela apontou que tarifas e instabilidade comercial funcionam como choques negativos de demanda, exigindo respostas inovadoras na condução da política monetária.

Pela primeira vez, o FMI optou por construir suas projeções usando um cenário de referência, em vez do tradicional cenário-base, refletindo o alto grau de incerteza global. Gopinath também citou a resiliência de moedas como o peso mexicano e o zloty polonês, como prova da evolução institucional de vários emergentes.

Segundo ela, o futuro da política monetária exige um trabalho ancorado em múltiplos cenários, sustentado pela credibilidade institucional e por uma comunicação estratégica eficaz.

Eli Remolona e a importância da independência institucional

Eli Remolona ressaltou o papel fundamental da independência dos bancos centrais em contextos de pressão fiscal crescente. Para ele, a transparência é desejável, mas o excesso de comunicação pode prejudicar a autonomia técnica das decisões monetárias.

Remolona defendeu que preservar a independência dos bancos centrais é essencial para a estabilidade de longo prazo, especialmente em países emergentes com histórico de fragilidade fiscal.

Lesetja Kganyago e a volatilidade cambial

O presidente do Banco Central da África do Sul, Lesetja Kganyago, abordou a gestão da volatilidade cambial. Segundo ele, o papel do banco central não é defender um patamar específico de câmbio, mas reduzir flutuações excessivas que ameacem a estabilidade financeira.

Kganyago também destacou que a comunicação institucional é tão importante para a população quanto para os mercados, reforçando a necessidade de flexibilidade e adaptação permanente.

Raghuram Rajan e os riscos das ferramentas não convencionais

Raghuram Rajan, ex-presidente do Banco Central da Índia, alertou para o uso criterioso de ferramentas alternativas como intervenções cambiais, controles de capitais e compras de ativos (QE).

Rajan enfatizou que essas medidas devem ser aplicadas com parcimônia, preferencialmente em momentos de crise aguda. A compra de ativos, em especial, traz riscos à independência dos bancos centrais e pode distorcer o funcionamento dos mercados financeiros se usada de forma inadequada. Para ele, a verdadeira sustentabilidade da independência monetária depende do apoio público e institucional contínuo.

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Produzido por Tatiana Pinheiro, economista-chefe da Galapagos Capital 

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