Na última semana, a Galapagos Capital marcou presença no Kes Summit 2025 como uma de suas principais marcas patrocinadoras. O evento, que ocorreu de 19 a 22 de agosto em Trancoso (Bahia), contou com a presença de mais de 250 líderes do Brasil e do mundo para discutir ideias relacionadas ao tema principal: Navegando Improvisos.
Improviso, que vem do latim “imprevisto”, é a arte de encontrar caminhos onde o planejamento não alcança. Nesse sentido, o Summit propôs que improvisar vai além de apenas reagir: é transformar incertezas em potência, com coragem, escuta e criatividade.
Liderança, tomada de decisões, nossa relação com a IA e com os dados, geopolítica e até comportamento humano. Os três dias de palestras e painéis renderam insights que podem ir além do âmbito corporativo:
Kes Summit 2025, dia 1: reencantar o digital, reencontrar o humano
O teórico de mídia Douglas Rushkoff abriu o encontro ressaltando que a inovação deixou de ser previsão para se tornar prática cotidiana. Ele criticou a visão da elite tecnológica, que enxerga o mundo digital como uma fuga da realidade em vez de um meio de aprimoramento da experiência humana. E defendeu que momentos de instabilidade (também chamados de “wobble”) devem ser vistos como oportunidades de repensar valores. Sua mensagem central foi clara: reencantar o digital é recolocar o humano no centro.
Para complementá-lo, a jornalista e roteirista Rosana Hermann trouxe o alerta sobre os efeitos da desmaterialização, processo que substituiu objetos físicos por versões digitais desde os anos 70. De acordo com ela, vivemos esse movimento de forma ainda mais intensa ao enxergar o mundo somente através de telas verticais — a ideia de que estaríamos “perdendo o horizonte”. Para a especialista, resgatar a conexão humana é um imperativo tanto para pessoas quanto para empresas.
Kes Summit 2025, dia 2: entre disciplina, geopolítica e o inesperado
No segundo dia de Summit, André Alves e Lucas Liedke, psicanalistas e cofundadores da consultoria Float, discutiram como o culto à ultradisciplina e ao autocontrole extremo molda comportamentos, mas ao mesmo tempo limita a criatividade e a capacidade de adaptação. Eles defenderam que consistência não é seguir regras rígidas, mas sustentar o propósito mesmo diante da instabilidade. Para eles, disciplina sem espaço para erros e vulnerabilidade se torna uma prisão.
Já o professor de Relações Internacionais da FGV, Oliver Stuenkel, analisou o poder geopolítico das Big Techs, que hoje atuam como verdadeiros Estados ao controlar dados, infraestrutura e inteligência artificial. Esse cenário de “technopolar world” pode levar a guerras algorítmicas e exige do Brasil equilíbrio entre pressões externas e a construção de soberania digital.
Por fim, Thiago Vianna, do iFood, apresentou a estratégia dos “jet skis” — pequenos times com autonomia para testar ideias. Essa abordagem permite explorar soluções inovadoras em ambientes incertos, reforçando que a vantagem não está no controle absoluto, mas em criar espaços de aprendizado coletivo e experimentação rápida.
Kes Summit 2025, dia 3: o futuro é um laboratório
Para iniciar o último dia de discussões, Anab Jain, designer, futurista e cofundadora do Superflux, destacou a importância de prototipar futuros possíveis e usar a imaginação como ferramenta política. Defendeu considerar os ecossistemas naturais como agentes de decisão e cultivar uma esperança ativa, capaz de transformar crises em oportunidades para a vida florescer em sua multiplicidade.
Os apresentadores Sandra Annenberg e Gustavo Villani compartilharam como improvisar faz parte da prática jornalística ao vivo. Para eles, improviso é técnica, não sorte: exige preparo, domínio do conteúdo e empatia. Reforçaram ainda que, em um tempo de desinformação, a confiança é o maior ativo de quem comunica.
Carla Mayumi, em seguida, apresentou os resultados da segunda edição da pesquisa Inteligência Artificial na Vida Real, que revelou a rápida popularização da IA no Brasil — de 27% em 2023 para 52% em 2024. O estudo mostrou também que 41% já preferem perguntar algo à IA do que a um colega de trabalho, reforçando tanto seu potencial quanto os riscos de isolamento social.
Ana Bertol abordou os paradoxos da inteligência artificial, que ao mesmo tempo amplia produtividade e ameaça a saúde mental. Inspirada em sua experiência pessoal, destacou que conviver com dúvidas é inevitável. E que a verdadeira liderança nasce da capacidade de recalibrar decisões em cenários de incerteza.
Para finalizar, Matt Klein encerrou o evento defendendo que dados são importantes. Mas não suficientes para criar o novo: ousadia e imaginação são fundamentais para construir futuros inéditos, como mostrou o exemplo da Pepsi na década de 1980 ao apostar na MTV. Dessa forma, sua mensagem resumiu o espírito do encontro: “Recebemos os futuros que fazemos”.