Inflação em alta e incertezas econômicas impactam política monetária
O aumento da dispersão nas projeções de inflação do mercado, apurado na pesquisa Focus do Banco Central (Bacen), reflete a intensificação das incertezas econômicas e a fragilidade nas âncoras de expectativas. A avaliação é de Paulo Picchetti, diretor do Departamento de Relações Internacionais do BC.
Durante apresentação em Washington, EUA, nas reuniões do FMI, Picchetti analisou a evolução das expectativas do mercado em relação à inflação 2025, taxa Selic, crescimento do PIB, câmbio e cenário fiscal até 2028 — com foco especial no biênio 2025-2026.
A mensagem central foi clara: o cenário atual é altamente incerto. Embora o Bacen tenha visibilidade suficiente para definir a política monetária em maio, não há clareza sobre os próximos passos.
Expectativas de inflação pressionam Selic
A deterioração das expectativas de inflação levou a um tom mais conservador do Banco Central. A desancoragem das expectativas — ou seja, o afastamento das projeções em relação ao centro da meta — está no centro da preocupação.
“Nós não estamos nos comprometendo com o final do ciclo de alta de juros por enquanto”, afirmou Picchetti.
Segundo ele, a mediana das projeções de inflação está no teto da meta, e a dispersão nas estimativas aumentou de forma significativa. O problema não está restrito a um grupo específico de bens ou serviços, o que indica um choque de demanda generalizado e persistente.
Sinais de desaceleração da atividade econômica
Apesar dos desafios, o diretor do Bacen apontou sinais iniciais de desaceleração na atividade econômica. Os investimentos recuaram no último trimestre, e o consumo das famílias começou a mostrar enfraquecimento. O mercado de trabalho segue aquecido, mas com sinais mistos: a taxa de desemprego caiu além do esperado, mas as projeções futuras foram revistas para cima.
Crédito e consumo: estímulo ainda incerto. No que diz respeito ao crédito e consumo, os indicadores de confiança do consumidor permanecem pessimistas. Houve leve melhora nas condições financeiras percebidas com a liberação do crédito consignado, mas ainda é incerto se esse estímulo se traduzirá em nova demanda agregada.
A migração de dívidas caras para o consignado com juros mais baixos pode liberar espaço no orçamento das famílias, mas ainda não está claro o impacto real disso sobre o consumo.
Cenário fiscal sem consolidação à vista.
O cenário fiscal brasileiro continua pressionado. As expectativas de resultado primário captadas pela pesquisa Focus não apontam para uma consolidação fiscal no médio prazo.
Banco Central adota postura de cautela.
Picchetti ressaltou que o Bacen considera os riscos tanto de um aperto excessivo da política monetária quanto de um afrouxamento prematuro. A incerteza sobre os efeitos fiscais e sobre o comportamento do crédito exige uma postura de monitoramento constante.
“Neste momento, evitar compromissos excessivos é parte do controle de risco”, destacou.
Questionado sobre a possível perda de potência da política monetária, Picchetti foi direto: “Sim”. Ele explicou que a transmissão dos efeitos da Selic está mais lenta, especialmente em países com histórico de inflação como o Brasil. Isso demanda mais tempo para entender os impactos das decisões já tomadas.
Fique de olho:
Juros devem continuar altos em 2025. Picchetti concluiu que não é possível afirmar se o Banco Central está próximo de encerrar o ciclo de alta da Selic. “O nível atual de juros é considerado altamente restritivo, mas o impacto das medidas fiscais e da desaceleração da atividade ainda precisa ser mais bem entendido”.
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Produzido por Tatiana Pinheiro, economista-chefe da Galapagos Capital