Independência, inflação e o caminho à frente para o Federal Reserve (Bloomberg)

O debate sobre a independência dos bancos centrais trouxe lições importantes em um momento de incerteza global e pressões inflacionárias persistentes. A principal mensagem é que a autonomia das autoridades monetárias é um pilar essencial para a credibilidade das políticas econômicas e para o controle sustentável da inflação. Quando governos tentam interferir diretamente nas decisões dos bancos centrais, os custos recaem sobre a economia — e, no longo prazo, sobre a própria população.

Segundo o economista David Wilcox, nos Estados Unidos, o debate sobre a independência do Federal Reserve também ganha força. Há preocupações crescentes de que o ambiente político possa minar a autonomia da instituição. Três eventos são vistos como potenciais ameaças:

  • O julgamento no Supremo Tribunal sobre a tentativa de demissão da diretora Lisa Cook, com audiências em janeiro e decisão esperada na primavera de 2026;
  • O prazo de 1º de março de 2026 para a recondução de todos os presidentes regionais dos bancos do Federal Reserve, que poderia abrir espaço para pressões políticas;
  • O fim do mandato de Jerome Powell em 15 de maio de 2026, data crítica que pode redefinir o rumo da política monetária americana.

Esses riscos institucionais ocorrem em um contexto de inflação acima da meta há cinco anos, e com projeções indicando que os EUA só devem retornar ao alvo de 2% após 2027. O alerta é que enfraquecer a independência do Fed agora poderia comprometer justamente o esforço necessário para trazer a inflação de volta à meta.

A economista Selva Baziki destacou que o caso da Turquia ilustra bem esse ponto. Lá, o presidente Erdogan insistiu em reduzir juros mesmo diante de uma inflação crescente, contrariando a teoria econômica e substituindo repetidamente presidentes do Banco Central que se opunham à sua visão. O resultado foi previsível: inflação em torno de 85%, forte desvalorização da moeda e uma perda profunda de credibilidade. A lição foi clara: manipular a política monetária para fins políticos tem efeitos devastadores, e restaurar a confiança depois leva anos.

Segundo a economista Adriana Dupita, o exemplo brasileiro, em contraste, mostra a importância de um banco central autônomo. Após 25 anos de regime de metas de inflação, o Brasil construiu uma reputação sólida de disciplina monetária. Mesmo enfrentando pressões políticas, a autoridade monetária manteve juros reais elevados — atualmente entre os mais altos do mundo — priorizando manter a inflação dentro da meta.

Isso reforça a mensagem de que a independência tem custo político no curto prazo, mas traz estabilidade e credibilidade no longo prazo.

DISCLAIMER
A presente Nota Macroeconômica (“Nota”) foi elaborada pelo economista-chefe da Galapagos Capital Investimentos e Participações (“Galapagos”) e não se configura como um relatório de análise para fins de Resolução CVM nº 20, de 25 de fevereiro de 2021. Neste sentido, a Galapagos destaca que a Nota reflete única e exclusivamente as opiniões do economista-chefe em relação ao conteúdo apresentado.
O objetivo meramente informativo da Nota não deverá ser interpretado como uma oferta ou solicitação de oferta para aquisição de valores mobiliários ou a venda de qualquer instrumento financeiro. Este material não leva em consideração os objetivos, planejamento estratégico, situação financeira ou necessidades específicas de qualquer investidor em particular. A Galapagos também destaca que as informações contidas na Nota foram obtidas por meio de fontes públicas consideradas seguras e confiáveis na data em que o material foi divulgado. Entretanto, apesar da diligência na obtenção das informações apresentadas, as projeções e estimativas contidas na Nota não devem ser interpretadas como garantia de performance futura pois estão sujeitas a riscos e incertezas que podem ou não se concretizar. Neste sentido, a Galapagos não apresenta nenhuma garantia acerca da confiabilidade, exatidão, integridade ou completude (expressas ou não) dessas mesmas informações abordadas. A Galapagos não se obriga em publicar qualquer revisão ou atualizar referidas projeções e estimativas frente a eventos ou circunstâncias que venham a ocorrer após a data deste documento. Ademais, ao acessar o presente material, o interessado compreende dos riscos relativos ao cenário macroeconômico abordado nesta Nota. Por último, a Galapagos e/ou qualquer outra empresa de seu grupo econômico não se responsabiliza por qualquer decisão do investidor que forem tomados com base nas informações aqui divulgadas, nem por ato praticado por profissionais por ele consultados e tampouco pela publicação acidental de informações incorretas. A Galapagos informa que potenciais investidores devem

Share on email
Share on whatsapp
Share on linkedin

Compartilhe!

EXPLORE NOSSOS CONTEÚDOS

Chame a gente no WhatsApp!