UBS: Navegando nas implicações das tarifas para a economia global

O painel reuniu especialistas em comércio internacional e política econômica (Tristan Reed, The World Bank, Brad Setser, Council on Foreign Relations, Kelly Ann Shaw, Akin Gump(, que analisaram a estratégia tarifária da administração Trump e seus impactos sobre: a economia e competitividade americana, as relações com a China e o sistema global de comércio, além de discutir o julgamento do IEEPA (International Emergency Economic Powers Act) e as formas legais pelas quais o governo poderia manter as tarifas em vigor.

1. Estratégia e objetivos da política tarifária de Trump
Segundo Shaw, ex-representante da administração, a meta central é transformar os EUA de uma economia de consumo para uma de produção, sustentando um crescimento de 4% do PIB e resultado fiscal de 3% do PIB. As tarifas são um instrumento dessa estratégia, ao lado de cortes de impostos, desregulação e estímulos à energia e à IA.

  • Reduzir o déficit comercial e incentivar produção doméstica com uma “muralha” tarifária de 10–15%;
  • Proteger cadeias críticas de suprimento e segurança nacional em setores como aço, alumínio, automóveis e minerais críticos;
  • Substituir sanções tradicionais por tarifas como instrumento de poder geopolítico.

2. Efeitos econômicos e limitações
Setser (ex-USTR) foi cético sobre a eficácia das tarifas em promover reindustrialização. Argumentou que a estrutura atual é distorcida:

  • Tarifas elevadas incidem sobre produtos de baixo valor agregado (como têxteis e vestuário), enquanto setores estratégicos como semicondutores e farmacêuticos seguem isentos.
  • Ao elevar o custo das matérias-primas, a política tributária mantém incentivos para empresas produzirem fora do país. Por exemplo, no setor automotivo, as tarifas sobre aço e alumínio aumentaram custos e reduziram a competitividade doméstica, favorecendo montadoras asiáticas.
    Em sua opinião, o resultado das tarifas é uma política que arrecada receita e gera poder político, mas falha em reindustrializar.

3. Impactos globais e redistribuição do comércio
Reed, World Bank, destacou que, embora o comércio global tenha desacelerado, não há sinais claros de desglobalização. Os efeitos das tarifas dos EUA têm sido moderados:

  • Economias menores e médias, como México e Vietnã, se beneficiaram com a realocação de produção antes concentrada na China, com parte relevante de novo valor agregado local. Porque, as tarifas reduzem a competição e aumentam custos de insumos, tornando exportadores americanos menos competitivos.
  • Reed enfatizou que subsídios funcionam melhor que tarifas para promover industrialização, citando exemplos de Japão e Coreia.

4. Segurança nacional e eficiência econômica
Shaw reconheceu o dilema entre eficiência e segurança nacional: o país está reavaliando a dependência de cadeias dominadas pela China, especialmente em setores estratégicos (minerais críticos, defesa, baterias, construção naval). A prioridade é reduzir vulnerabilidades, mesmo que isso implique menor eficiência e custos maiores no curto prazo.

5. O julgamento do IEEPA e riscos legais
O painel destacou que a Suprema Corte ouvirá em novembro os casos que questionam o uso do IEEPA (International Emergency Economic Powers Act) para impor tarifas.

  • As cortes inferiores decidiram que o presidente excedeu sua autoridade, seja por usar tarifas sem base legal, seja por fazê-lo de forma ilimitada e sem prazo definido.
  • Uma decisão final é esperada entre início e meados de 2026.
  • Embora a questão dos reembolsos às empresas não esteja em julgamento direto, ela pode gerar litígios posteriores.

6. Planos alternativos caso o IEEPA seja invalidado
Setser avaliou que a Suprema Corte provavelmente declarará o IEEPA inválido para tarifas, mas que o governo dispõe de outros instrumentos para mante-las

  • Seção 232 (segurança nacional) — permitiria tarifas setoriais amplas;
  • Seção 301 (práticas comerciais desleais) — já usada na guerra comercial com a China;
  • Seção 122 (emergência de balanço de pagamentos) — autoriza tarifas temporárias de até 15%;
  • Seção 338 do Trade Act de 1930 — permite tarifas de até 50% contra países discriminatórios.
    Essas ferramentas exigem mais processo legal e consultas públicas, mas poderiam *recriar parte significativa da estrutura tarifária. *Shaw reforçou que o governo está disposto a usá-las, inclusive testando bases jurídicas inéditas.

7. Perspectivas de longo prazo e geopolítica
Os painelistas concluíram que as mudanças americanas representam um ponto de inflexão no sistema global de comércio. A retórica protecionista se inverteu: enquanto nos anos 2000 as críticas à globalização vinham de países em desenvolvimento, hoje partem dos EUA.

Os países emergentes seguem buscando integração e investimento estrangeiro — exemplo disso é a entrada da Etiópia na OMC —, enquanto os EUA parecem dispostos a *sacrificar eficiência econômica em nome da segurança nacional.

Em síntese, o painel destacou que as tarifas de Trump refletem um projeto estrutural de transformação da economia americana, mas seu desenho atual é inconsistente e politicamente arriscado. O julgamento do IEEPA pode redefinir o alcance do poder tarifário presidencial, e, caso as tarifas sejam anuladas, *a via mais provável de manutenção será o uso combinado das seções 232 e 301, com justificativas de segurança nacional e práticas desleais, inaugurando uma nova era de política comercial mais intervencionista e legalmente contestada.

DISCLAIMER
A presente Nota Macroeconômica (“Nota”) foi elaborada pelo economista-chefe da Galapagos Capital Investimentos e Participações (“Galapagos”) e não se configura como um relatório de análise para fins de Resolução CVM nº 20, de 25 de fevereiro de 2021. Neste sentido, a Galapagos destaca que a Nota reflete única e exclusivamente as opiniões do economista-chefe em relação ao conteúdo apresentado. O objetivo meramente informativo da Nota não deverá ser interpretado como uma oferta ou solicitação de oferta para aquisição de valores mobiliários ou a venda de qualquer instrumento financeiro. Este material não leva em consideração os objetivos, planejamento estratégico, situação financeira ou necessidades específicas de qualquer investidor em particular. A Galapagos também destaca que as informações contidas na Nota foram obtidas por meio de fontes públicas consideradas seguras e confiáveis na data em que o material foi divulgado. Entretanto, apesar da diligência na obtenção das informações apresentadas, as projeções e estimativas contidas na Nota não devem ser interpretadas como garantia de performance futura pois estão sujeitas a riscos e incertezas que podem ou não se concretizar. Neste sentido, a Galapagos não apresenta nenhuma garantia acerca da confiabilidade, exatidão, integridade ou completude (expressas ou não) dessas mesmas informações abordadas. A Galapagos não se obriga em publicar qualquer revisão ou atualizar referidas projeções e estimativas frente a eventos ou circunstâncias que venham a ocorrer após a data deste documento. Ademais, ao acessar o presente material, o interessado compreende dos riscos relativos ao cenário macroeconômico abordado nesta Nota. Por último, a Galapagos e/ou qualquer outra empresa de seu grupo econômico não se responsabiliza por qualquer decisão do investidor que forem tomados com base nas informações aqui divulgadas, nem por ato praticado por profissionais por ele consultados e tampouco pela publicação acidental de informações incorretas. A Galapagos informa que potenciais investidores devem buscar aconselhamento financeiro profissional sobre a adequação do investimento em valores mobiliários ou outros investimentos e estratégias discutidas.

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