FMI: Debate sobre a economia global — políticas em um cenário em transformação

Neste painel, prevaleceu a leitura de que a economia global mantém uma resiliência notável diante de choques sucessivos: guerras, desglobalização e revolução tecnológica, mas enfrenta um novo ciclo de incerteza estrutural e fragmentação geoeconômica. A tônica é as políticas econômicas precisarão ser mais prudentes, adaptáveis e coordenadas em novas geometrias regionais.

Kristalina Georgieva abriu o debate com uma avaliação realista: “pior do que há um ano, melhor do que há seis meses.”

Segundo ela, dois fatores sustentam a resiliência: melhores fundamentos macroeconômicos e instituições mais sólidas, sobretudo nos emergentes, além de maior protagonismo do setor privado, hoje mais ágil e inovador.

Mas Georgieva alertou para três vulnerabilidades:
1. Tensões comerciais — a redireção das exportações chinesas dos EUA para a Ásia e Europa pode reacender disputas e retaliações;
2. Euforia financeira e em IA — valuations elevados e expectativas exageradas de produtividade podem gerar correção brusca;
3. O inesperado — após a pandemia, é preciso “pensar o impensável”; outro choque virá, e a resiliência global ainda não foi totalmente testada.

Christine Lagarde destacou que a Europa surpreendeu positivamente: a esperada desvalorização do euro e alta da inflação não se concretizaram, permitindo ao BCE manter o equilíbrio entre crescimento e estabilidade de preços. A área do euro atingiu inflação de 2% e juros de 2%, um ponto de estabilidade rara.

Ela reconheceu, contudo, que a política monetária hoje requer mais julgamento e menos dependência de modelos — distorcidos por guerra, desinformação e tecnologia.

Lagarde reforçou três frentes prioritárias:
• Regulação financeira para novas tecnologias, mitigando riscos de estabilidade;
• Integração regional, com a Europa reduzindo barreiras internas equivalentes a 40% em bens e 110% em serviços;
• Nova cooperação global, não mais sob um multilateralismo uniforme, mas via arranjos regionais interligados — com ineficiências inevitáveis, mas necessárias.

Tharman Shanmugaratnam trouxe a visão asiática: a região vive “duas forças opostas” — de um lado, tarifas americanas e onshoring nos EUA; de outro, redirecionamento de exportações chinesas e maior autossuficiência de Pequim. A resposta, segundo ele, está em reconfigurar o comércio global: “Se os EUA reconsideram o comércio, nós também devemos reconfigurá-lo.”

O premiê defendeu que países emergentes e de médio porte têm agência e devem fortalecer integrações regionais (CPTPP, ASEAN, UE, GCC) que, combinadas, representam mais de 40% do comércio mundial. “Se queremos um novo desenho de globalização, ele deve nascer das pontes entre regiões.”

Gordon Hanson complementou com o alerta institucional: a decisão iminente da Suprema Corte dos EUA sobre os poderes tarifários do Executivo pode redefinir o cenário global de retaliações. Se o presidente mantiver liberdade total, o risco de guerras comerciais aumenta; se for limitado, os conflitos tendem a se concentrar em setores específicos e serem gerenciáveis. Para ele, o futuro do comércio dependerá da previsibilidade política americana e da capacidade dos outros blocos de se organizarem entre si.

Adena Friedman (Nasdaq) ofereceu o contraponto dos mercados: os investidores, segundo ela, “já internalizaram o novo ciclo”. A expectativa de política monetária mais moderada em 2025, somada à visão de longo prazo sobre a IA, tem sustentado as bolsas — com fundamentos sólidos: “Enquanto o Nasdaq 100 subiu 37%, os lucros das empresas cresceram 32%.” Ela acredita que a IA será a tecnologia mais transformadora em décadas, mas exige tempo e infraestrutura para gerar produtividade real.

Ao final, Lagarde e Georgieva convergiram em um ponto central: a resiliência foi comprovada, mas o teste ainda não terminou.

O mundo caminha para uma era de cooperação fragmentada, em que instituições sólidas, disciplina fiscal e inovação serão determinantes para quem quiser prosperar em meio à incerteza. O novo normal será mais volátil, mas também mais dinâmico, e os países que souberem equilibrar prudência e ambição estarão melhor posicionados para liderar a próxima fase da globalização.

DISCLAIMER
A presente Nota Macroeconômica (“Nota”) foi elaborada pelo economista-chefe da Galapagos Capital Investimentos e Participações (“Galapagos”) e não se configura como um relatório de análise para fins de Resolução CVM nº 20, de 25 de fevereiro de 2021. Neste sentido, a Galapagos destaca que a Nota reflete única e exclusivamente as opiniões do economista-chefe em relação ao conteúdo apresentado. Por último, a Galapagos e/ou qualquer outra empresa de seu grupo econômico não se responsabiliza por qualquer decisão do investidor que forem tomados com base nas informações aqui divulgadas, nem por ato praticado por profissionais por ele consultados e tampouco pela publicação acidental de informações incorretas. A Galapagos informa que potenciais investidores devem buscar aconselhamento financeiro profissional sobre a adequação do investimento em valores mobiliários ou outros investimentos e estratégias discutidas. O objetivo meramente informativo da Nota não deverá ser interpretado como uma oferta ou solicitação de oferta para aquisição de valores mobiliários ou a venda de qualquer instrumento financeiro. Este material não leva em consideração os objetivos, planejamento estratégico, situação financeira ou necessidades específicas de qualquer investidor em particular. A Galapagos também destaca que as informações contidas na Nota foram obtidas por meio de fontes públicas consideradas seguras e confiáveis na data em que o material foi divulgado. Entretanto, apesar da diligência na obtenção das informações apresentadas, as projeções e estimativas contidas na Nota não devem ser interpretadas como garantia de performance futura pois estão sujeitas a riscos e incertezas que podem ou não se concretizar. Neste sentido, a Galapagos não apresenta nenhuma garantia acerca da confiabilidade, exatidão, integridade ou completude (expressas ou não) dessas mesmas informações abordadas. A Galapagos não se obriga em publicar qualquer revisão ou atualizar referidas projeções e estimativas frente a eventos ou circunstâncias que venham a ocorrer após a data deste documento. Ademais, ao acessar o presente material, o interessado compreende dos riscos relativos ao cenário macroeconômico abordado nesta Nota. 

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