O primeiro dia das Reuniões Anuais do FMI 2025, em Washington, reuniu líderes globais, formuladores de política e economistas em torno de um ponto comum: a força inesperada da economia global em meio às tensões comerciais e geopolíticas.
Resiliência e confiança: a mensagem de Kristalina Georgieva
Em seu discurso de abertura, a diretora-geral do FMI, Kristalina Georgieva, destacou a diferença entre o pessimismo que dominava em abril e a realidade atual, bem mais equilibrada. Apesar da escalada de tarifas entre Estados Unidos e China e do temor de recessão global, a atividade econômica mostrou-se mais resistente do que o previsto.
As tarifas médias americanas, que chegaram a ser projetadas em 23%, ficaram em torno de 17,5%, e muitos países evitaram medidas retaliatórias — o que ajudou a manter o comércio internacional funcionando.
Georgieva apontou quatro pilares dessa resiliência:
- Fundamentos macroeconômicos mais fortes, com maior transparência fiscal e independência dos bancos centrais;
- Papel crescente do setor privado, que aumenta a capacidade de adaptação das economias;
- Evitação de retaliações comerciais, preservando a cooperação multilateral;
- Condições financeiras menos restritivas do que o esperado, apesar do alto endividamento global.
Ainda assim, o alerta foi claro: o crescimento segue baixo e as dívidas, elevadas. Para Georgieva, as prioridades são reduzir o endividamento, apoiar países vulneráveis e estimular o investimento e a geração de empregos, sobretudo entre os jovens das economias emergentes.
“Crescimento é a saída da armadilha da dívida”, afirmou a diretora-geral. “Precisamos conectar o capital das economias envelhecidas com o potencial produtivo das nações jovens.”
ASEAN: transformando choques comerciais em vantagem competitiva
O estudo “Global Trade Policy Spillover to ASEAN” apresentou um contraponto prático ao discurso da manhã. A pesquisa mostrou como países do Sudeste Asiático — especialmente Vietnã e Tailândia — souberam transformar o choque das tarifas entre EUA e China em oportunidade de crescimento.
Essas economias ampliaram exportações em mais de 13% nos primeiros dois anos após o aumento tarifário e atraíram forte fluxo de investimento direto estrangeiro. No Vietnã, setores afetados pelas tarifas receberam cerca de um terço a mais de projetos de investimento, o que elevou a capacidade produtiva e o valor agregado doméstico.
A principal lição: estruturas econômicas abertas e integradas às cadeias globais conseguem não apenas resistir a choques, mas convertê-los em vantagem competitiva.
As três recomendações centrais do estudo foram:
- Manter os mercados abertos;
- Fortalecer a integração nas cadeias globais;
- Aumentar o valor agregado doméstico.
Europa: como reacender o dinamismo econômico
Encerrando o dia, o painel “Reinvigorating Europe’s Dynamism” trouxe uma análise crítica sobre a falta de dinamismo da economia europeia, travada por fragmentação regulatória, baixa integração financeira e custos de energia elevados.
O FMI propõe uma agenda de duas frentes para destravar o crescimento:
- Aprofundar o mercado único europeu, eliminando barreiras regulatórias, ampliando o mercado de capitais e fortalecendo a integração energética e laboral;
- Reforçar o orçamento comum (MFF), dobrando a parcela voltada a investimentos estratégicos e permitindo emissão conjunta de dívida europeia como instrumento regular de financiamento.
De acordo com o Fundo, reformas nessas áreas poderiam elevar o PIB da União Europeia em até 3% na próxima década, mais que dobrando o ritmo atual de crescimento potencial.
Síntese do dia
O primeiro dia das Reuniões Anuais do FMI reforçou uma mensagem comum aos três painéis: a economia global se mostrou mais resiliente, mas ainda precisa de cooperação, investimento e inclusão para sustentar o crescimento no longo prazo.
Enquanto a Ásia demonstra a força da adaptação e da integração, a Europa busca um novo impulso de competitividade e inovação — e o FMI insiste que transparência, confiança institucional e governança sólida continuam sendo o alicerce da estabilidade global.
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Produzido por Tatiana Pinheiro, economista-chefe da Galapagos Capital