A busca pela confiança global. “Temos zero credibilidade. A Argentina esgotou sua credibilidade”. A frase é de Santiago Bausili, presidente do Banco Central da Argentina, durante o painel sobre os desafios macroeconômicos do país na reunião de primavera do FMI, em Washington, nos EUA.
A Argentina foi um dos países com destaque em alguns painéis durante a semana de reuniões de primavera do FMI. Bausili compartilhou os bastidores e os dilemas do país em meio ao processo de reforma econômica, e traçou um panorama dos ajustes que estão sendo implementados no regime cambial, nas políticas monetárias e no comportamento dos agentes econômicos.
Reconhecendo a fragilidade da confiança institucional do país e a limitação das reservas cambiais, Santiago Bausili explicou que a Argentina está abandonando o regime de ancoragem baseado no câmbio — em que o valor do peso era mantido estável em relação ao dólar como forma de conter a inflação — e adotando um novo modelo ancorado em agregados monetários.
Na prática, isso significa que, em vez de tentar controlar diretamente o valor do câmbio, o Banco Central passa a controlar a quantidade de dinheiro em circulação na economia, como forma de influenciar a inflação de maneira mais previsível. A ideia é reconstruir a credibilidade da política monetária com base em metas transparentes e sustentáveis, permitindo uma transição mais gradual para um sistema mais estável e menos dependente de intervenções cambiais.
A meta, segundo Bausili, é a liberalização completa da taxa de câmbio no futuro, mas o processo precisa ser gradual para evitar choques descontrolados. Segundo ele, com incentivos corretos, a previsibilidade pode voltar a guiar decisões racionais de empresas e famílias.
“Os argentinos não são especiais. São agentes econômicos como em qualquer lugar do mundo, que reagem a incentivos econômicos e financeiros”, disse.
Um dos principais desafios para o país está justamente na eliminação de controles e regulações acumulados ao longo de anos. Para Bausili, desatar esses nós não é algo simples e linear.
“Quando começamos a remover regulações, é como puxar um fio e de repente algo inesperado acontece”, explicou.
A estratégia, então, tem sido a redução progressiva das distorções e travas no mercado, com foco em manter um certo grau de previsibilidade enquanto o ambiente econômico se reacomoda.
Além disso, a Argentina está promovendo uma virada nas taxas de juros reais, que saem de níveis negativos para se tornarem positivas, uma tentativa de recuperar a função de reserva de valor do peso argentino.
O comportamento empresarial diante da incerteza
O cenário de alta inflação e instabilidade na Argentina fez com que muitas empresas priorizassem a proteção patrimonial em vez do crescimento.
“Tem sido mais vantajoso para empresas argentinas manter estoque do que crescer”, explicou.
Esse comportamento tem, na visão de Bausili, distorcido a lógica produtiva e comercial. Ele reconheceu que cada setor responde de maneira diferente à nova política econômica, e que ajustes de margem e reposicionamentos estratégicos serão inevitáveis no médio prazo.
No entanto, o maior desafio do país vai muito além da mudança de leis e indicadores, na opinião do presidente do Banco Central da Argentina. Para Bausili, a questão central é a adaptação comportamental dos agentes econômicos. Em outras palavras, como as pessoas vão incorporar e se adaptar à nova lógica monetária.
“A resposta será gradual. A normalização dos mercados, da política monetária e das expectativas exigirá tempo e paciência”, afirmou.
Fique de olho:
A apresentação de Bausili deixou claro que a estabilização econômica na Argentina é um processo sistêmico e não uma medida pontual. A combinação de realismo técnico, franqueza política e foco na reconstrução institucional marca o tom da gestão. As mudanças serão graduais, mas têm direção clara: restaurar a confiança, estabilizar o sistema e preparar o terreno para um novo ciclo de crescimento sustentável.
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Produzido por Gabriela Viana, Diretora de Branding e Comunicação da Galapagos Capital.