União Europeia em ponto de inflexão: comércio, fiscal e defesa no centro das decisões

Panorama econômico da América Latina e Europa no FMI 2025.

União Europeia em ponto de inflexão, entenda. Durante os painéis promovidos pelos Spring Meetings do FMI 2025, dois temas centrais emergiram: o reposicionamento estratégico da União Europeia diante de desafios geopolíticos e a tentativa da Argentina de reconstruir sua economia por meio de uma política monetária realista e gradual. Em ambos os casos, a confiança seja entre os mercados, as instituições ou os cidadãos, se mostrou o ativo mais valioso e, ao mesmo tempo, mais desafiador.

União Europeia: equilíbrio entre segurança, responsabilidade fiscal e integração comercial

No painel conduzido por Paschal Donohoe, presidente do Eurogrupo, ficou claro que a União Europeia está diante de um ponto de inflexão decisivo. As decisões tomadas agora moldarão o papel do bloco nas próximas décadas. O aumento dos gastos com defesa, por exemplo, está sendo tratado não como custo, mas como investimento estratégico. No entanto, essa estratégia precisa caminhar lado a lado com a manutenção da credibilidade fiscal — pilar essencial para sustentar a confiança dos mercados.

Apesar das especulações sobre um possível “Next Generation EU 2.0”, Donohoe foi categórico: não há planos para uma nova rodada de estímulo conjunto. A prioridade é utilizar os instrumentos já existentes de forma eficiente.

No plano externo, as perspectivas de um novo acordo comercial com os Estados Unidos são modestas. Por isso, a atenção se volta para outras regiões, especialmente América Latina e Ásia. Ganha força o interesse renovado no acordo Mercosul-União Europeia, sinalizando uma reorientação da política externa do bloco.

Outro tema estratégico é a integração do mercado de capitais europeu, que avança com o projeto da Investment and Savings Union. O objetivo é claro: conectar a poupança doméstica da Europa com investimentos produtivos que possam impulsionar o crescimento sustentável.

A guerra na Ucrânia e o aumento da pressão regulatória completam o cenário desafiador. Para seguir relevante no cenário geopolítico, a UE precisa combinar prudência fiscal com agilidade estratégica — uma tarefa complexa, mas inadiável.

Argentina: confiança, previsibilidade e realismo técnico

No painel dedicado à América Latina, Santiago Bausili, presidente do Banco Central da Argentina, compartilhou os bastidores do novo modelo de estabilização econômica do país. A frase que resume o ponto de partida é forte: “Começamos com zero credibilidade”.

O novo programa rompe com o tradicional modelo de âncora cambial e aposta em uma política monetária baseada em agregados monetários para conter a inflação. A proposta é simples na teoria, mas desafiadora na prática: oferecer previsibilidade gradual para reconstruir a confiança de empresas, famílias e investidores.

Segundo Bausili, o comportamento das empresas já está mudando — há uma priorização de estoques em detrimento do crescimento. Esse movimento reflete a cautela do setor produtivo, ainda adaptando-se à nova lógica econômica.

A transição exigirá tempo, paciência e uma mudança profunda na mentalidade política e empresarial. Nesse sentido, a franqueza política e o realismo técnico são apontados como guias da estratégia de estabilização.

A nova fase: previsibilidade, reformas e reconstrução de reservas

Em paralelo à nova política monetária, a Argentina fechou um acordo de US$ 20 bilhões com o FMI via a Facilidade Estendida de Financiamento. Um desembolso antecipado de 60% do valor total busca oferecer previsibilidade ao mercado e reforçar reservas internacionais.

O foco atual está na reconstrução das reservas cambiais, com bandas mais amplas e metas claras para a liquidez. A política fiscal visa um superávit primário de 2,5% do PIB, o que exige reformas estruturais nas áreas tributária e previdenciária. As medidas em curso também incluem desregulamentação da economia, maior flexibilidade dos mercados e simplificação do sistema cambial.

A nova política monetária será conduzida com base em agregados monetários, com as taxas de juros determinadas pela dinâmica interna da economia.

Fique de olho

A sustentabilidade do programa dependerá da credibilidade, execução e equilíbrio externo, não apenas do retorno ao mercado de capitais.

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Produzido por Tatiana Pinheiro, economista-chefe da Galapagos Capital 

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