Vivemos a era da abundância de informações. Com poucos cliques, temos acesso a análises aprofundadas, opiniões diversas, notícias atualizadas e conteúdos de todas as áreas do conhecimento. À primeira vista, isso parece resolver o problema da falta de repertório. No entanto, o excesso de informação pode ser tão desafiador quanto a escassez: estamos perdendo, gradualmente, a capacidade de filtrar o que realmente importa.
Esse fenômeno, conhecido como infoxicação, dificulta a construção de uma base sólida de referências e a tomada de decisões estratégicas. Afinal, quando tudo parece urgente e relevante, como escolher o que merece atenção?
Neste cenário, desenvolver repertório e saber utilizá-lo de forma estruturada se tornam diferenciais fundamentais — tanto para indivíduos quanto para empresas.
O que é repertório e por que ele importa?
Repertório é o conjunto de referências, experiências, aprendizados e conhecimentos que uma pessoa ou organização carrega. Ele é construído ao longo do tempo, por meio de leituras, vivências, trocas e reflexões. É o repertório que permite fazer conexões inteligentes, interpretar cenários complexos e agir com mais clareza em momentos de incerteza.
Na Galapagos Capital, acreditamos que tomar boas decisões exige muito mais do que bons dados. É preciso saber contextualizá-los, analisar diferentes perspectivas e alinhar a escolha com os objetivos de longo prazo. E é justamente neste ponto que o repertório entra como ferramenta estratégica.
Como desenvolver um bom repertório?
Desenvolver repertório é um processo contínuo, que exige intenção e diversidade. Algumas práticas fundamentais incluem:
- Leitura diversificada: livros de diferentes gêneros, épocas e áreas do conhecimento ampliam vocabulário, visão crítica e capacidade analítica.
- Consumo de conteúdo audiovisual: filmes, documentários, videoaulas e séries com temas históricos, científicos e culturais contribuem para a formação de uma visão mais ampla do mundo.
- Escuta ativa de podcasts: conteúdos em áudio sobre economia, filosofia, cultura e inovação são formas acessíveis de aprender e refletir.
- Vivências culturais: visitar museus, assistir a peças de teatro, participar de palestras ou eventos amplia a sensibilidade e o olhar crítico.
- Discussões e trocas: conversar com pessoas de diferentes origens, realidades e áreas estimula o pensamento plural.
- Aplicação prática: relacionar o que se aprende com desafios cotidianos, estratégias da empresa ou decisões financeiras fortalece o aprendizado e transforma conhecimento em ação.
Mais do que acumular informações, trata-se de conectar referências e enxergar padrões — habilidade essencial em mercados voláteis e ambientes de alta complexidade. Afinal, o mundo é multidisciplinar e boa parte da nossa capacidade criativa está em perceber (e criar) essas interseções.
Como tomar decisões embasadas?
Além de desenvolver um repertório robusto, é necessário seguir um processo estruturado para transformar conhecimento em decisões consistentes. Um bom processo decisório geralmente envolve:
- Definir claramente o problema: entender o que precisa ser decidido e quais são os objetivos envolvidos.
- Reunir informações relevantes: buscar dados confiáveis, ouvir diferentes perspectivas e mapear os fatores envolvidos.
- Avaliar as opções: considerar prós, contras e possíveis consequências de cada escolha.
- Alinhar com valores e objetivos: garantir que a decisão esteja conectada à identidade e aos propósitos pessoais ou institucionais.
- Buscar conselhos estratégicos: consultar especialistas, parceiros e pessoas de confiança pode ampliar a visão e enriquecer a análise.
- Usar a intuição com responsabilidade: ela é uma aliada importante — desde que acompanhada de análise racional.
- Dar tempo ao tempo: decisões importantes não devem ser impulsivas. Pausar para refletir é parte essencial do processo.
Ferramentas como análise SWOT, matriz de decisão e diagrama de causa e efeito também podem auxiliar na clareza e na objetividade da escolha.
Repertório e diversidade: o que dizem os estudos?
Estudos da Kellogg School of Management mostram que grupos diversos processam informações com mais rigor e tomam decisões mais assertivas. Já uma pesquisa da Cloverpop revelou que equipes com diversidade de gênero, idade e origem tomam decisões melhores 87% das vezes — e alcançam resultados até 60% superiores quando diversidade e inclusão caminham juntas.
A explicação está na diversidade cognitiva: quanto mais variados os pontos de vista, maiores as chances de antecipar riscos, enxergar oportunidades e evitar vieses inconscientes.
Como aplicamos isso na Galapagos Capital?
Na Galapagos Capital, tratamos o conhecimento como um ativo estratégico. Incentivamos a construção de repertório por meio da leitura contínua, de debates temáticos internos, da troca entre áreas e da escuta ativa de diferentes vozes — internas e externas.
Nosso processo decisório envolve análises estruturadas, diversidade de perspectivas e tempo de maturação. Mais do que escolher rápido, buscamos escolher certo — com base em dados, propósito e repertório. É essa filosofia que orienta nossas decisões de investimento, gestão patrimonial e relacionamento com clientes.
Em tempos de incerteza, o conhecimento não garante respostas prontas, mas oferece caminhos. E quem desenvolve um repertório sólido tem mais clareza para navegar o presente e construir o futuro com consistência.
Por Rebeca Nevares, Sócia e CMO da Galapagos Capital.