Comércio global, estabilidade financeira e longevidade em pauta. No segundo dia do FMI 2025, os debates se aprofundaram em temas centrais para o futuro da economia global. Ganharam destaque as discussões sobre os impactos das tensões comerciais internacionais, os desafios e soluções para promover uma estabilidade financeira mais sólida, as estratégias para o restabelecimento do acesso a mercados internacionais e os efeitos da longevidade populacional como vetor de crescimento econômico sustentável.
A seguir, reunimos os insights mais relevantes do dia, com ênfase nas projeções, riscos e recomendações estratégicas apontadas pelos líderes do Fundo Monetário Internacional.
O impacto do tarifaço e os novos contornos da desaceleração global
A escalada das barreiras comerciais, especialmente nos Estados Unidos, foi apontada como um dos principais vetores de desaceleração econômica. O FMI reduziu sua previsão de crescimento global para 2,8% em 2025 (ante 3,3%) e revisou para baixo também as estimativas dos EUA, que devem crescer apenas 1,8%.
O economista-chefe do FMI, Pierre-Olivier Gourinchas, destacou que estamos entrando em uma nova era de redefinição do sistema econômico global, construído ao longo dos últimos 80 anos. A tensão comercial entre EUA e China já começa a redesenhar os fluxos de comércio bilateral, afetando diretamente a confiança do mercado — inclusive na robustez do dólar como moeda de segurança. Países como Canadá e China responderam com tarifas próprias, e a União Europeia sinalizou que pode seguir o mesmo caminho.
Além dos impactos diretos sobre o comércio, a incerteza política acentuada deteriora as perspectivas de crescimento. Regiões como a América Latina, China e os países exportadores de petróleo enfrentam pressões particulares. O FMI foi enfático ao afirmar: as tarifas comerciais têm um peso desproporcional na erosão do crescimento, sobretudo em economias vulneráveis às oscilações globais.
Global Financial Stability Report 2025: lições para a resiliência
O painel sobre estabilidade financeira trouxe um recado direto: prevenir crises é mais eficaz (e menos custoso) do que reagir a elas. O FMI defendeu o fortalecimento da regulação, principalmente sobre o setor financeiro não bancário — como fundos de investimento e veículos de crédito privados — cujo crescimento vem escapando dos sistemas tradicionais de monitoramento.
Também foi discutido o papel das blended finances, ou finanças mistas, que combinam recursos públicos e privados para financiar projetos com impacto social e ambiental. Embora estratégicas, essas ferramentas enfrentam obstáculos em um cenário de juros altos, como a menor atratividade para investidores e maior custo de capital, especialmente em países em desenvolvimento.
Outro ponto de atenção foi a insuficiência de dados estatísticos para mapear riscos emergentes, o que limita a capacidade de resposta dos reguladores. O FMI recomendou o fortalecimento dos sistemas judiciais e contratuais, com foco em soluções que permitam ao próprio mercado alocar riscos e custos de forma eficiente, evitando a transferência de ônus ao setor público.
Fique de olho em: promover a eficiência na alocação de riscos reduz a probabilidade de resgates fiscais e protege a sustentabilidade das finanças públicas.
Reacesso de países com acordo com o FMI aos mercados internacionais
Com base em uma análise de 87 programas firmados nos últimos 20 anos, o FMI apresentou evidências robustas de que os acordos, quando bem implementados, contribuem significativamente para a redução dos custos de financiamento externo. Em média, os spreads de países com programas bem-sucedidos caem cerca de 45% em até quatro anos após o início do acordo.
A chave, segundo o painel, não está no tamanho do programa, mas na qualidade de sua execução. A combinação entre reformas estruturais, consolidação fiscal e transparência da dívida tende a aumentar a credibilidade e a eficácia dos programas. O FMI enfatizou que o apoio internacional precisa estar ancorado em compromissos domésticos sólidos para produzir resultados sustentáveis.
Fique de olho em: programas eficazes são parte de estratégias macroeconômicas integradas, com forte ancoragem local e metas claras de médio e longo prazo.
Envelhecimento populacional: desafio econômico ou oportunidade de crescimento sustentável?
O FMI também voltou seu olhar para as transformações demográficas globais. O envelhecimento populacional foi tratado não apenas como um desafio fiscal e previdenciário, mas como uma janela de oportunidade. Dados do próprio Fundo indicam que, com políticas adequadas, o crescimento do PIB global pode ser elevado entre 0,3 e 0,6 ponto percentual ao ano no médio prazo.
Para isso, o conceito de envelhecimento saudável foi apresentado como ferramenta estratégica. A extensão da vida produtiva, o estímulo à participação de pessoas acima dos 60 anos no mercado e o combate ao etarismo foram algumas das recomendações centrais. O FMI destacou a importância de políticas voltadas à saúde preventiva, requalificação profissional contínua e reformas no mercado de trabalho que incentivem carreiras mais longas.
Fique de Olho
O momento de agir é agora. Países que conseguirem transformar a longevidade em vetor de produtividade e inovação estarão melhor posicionados para a próxima fase do crescimento global.
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Produzido por Tatiana Pinheiro, economista-chefe da Galapagos Capital