Promovida pela Arko Advice, em parceria com a Galapagos Capital, a Arko Talks 2025 reuniu algumas das principais lideranças políticas, econômicas e empresariais do país para debater os desafios estruturais do Brasil e os caminhos possíveis para um desenvolvimento sustentável.
Ao longo da manhã, os participantes discutiram temas fundamentais, passando pela abertura com o ministro André Mendonça, pela repercussão da CPMI do INSS, pelos desafios de infraestrutura e pelo cenário econômico, fiscal e político para 2026.
A seguir, reunimos os principais pontos apresentados em cada painel e como essas conversas ajudam a iluminar decisões importantes para o futuro do país.
Abertura: segurança jurídica e confiança institucional
Na abertura, o ministro André Mendonça recolocou a segurança jurídica no centro do debate sobre desenvolvimento. Ele destacou que rule of law, qualidade regulatória, efetividade governamental e controle da violência não são indicadores abstratos, mas fatores que impactam diretamente custo de capital, produtividade e decisões de investimento.
O ministro também ressaltou o déficit de planejamento regulatório previsto no artigo 174 da Constituição. Segundo ele, o Estado é mais reativo do que estratégico, o que prejudica a coordenação entre regulação, fiscalização e incentivo econômico. Esse cenário fica evidente em casos como a alienação fiduciária no agronegócio, onde decisões judiciais descoladas do arcabouço legal elevam riscos e desestimulam investimentos.
Ao abordar a legitimidade do Judiciário, Mendonça resumiu três pilares essenciais: imparcialidade, racionalidade e proximidade com os fatos. Para ele, segurança jurídica não é um conceito teórico, mas uma infraestrutura institucional que sustenta crescimento econômico, fluxo de crédito e confiança entre mercado e economia real.
Painel 1: repercussão da CPMI do INSS
No painel sobre a CPMI do INSS, o deputado Alfredo Gaspar apresentou um diagnóstico de crise de integridade nas instituições brasileiras. Segundo ele, a combinação entre descrédito do Legislativo e do Executivo e o ativismo do Judiciário contribui para a sensação de impunidade e fragilidade dos freios e contrapesos.
O relator detalhou o esquema bilionário de descontos associativos fraudulentos em benefícios do INSS. Esses pequenos débitos, acumulados ao longo de décadas, prosperaram graças à conivência burocrática, blindagem política e falta de ação efetiva dos órgãos de controle. A prática envolvia até o uso de dados de beneficiários falecidos.
A primeira fase da CPMI buscou estancar os descontos irregulares. A segunda, voltada ao mercado de empréstimos consignados, deve abordar um universo ainda maior de fraudes e assimetria de informação. Para investidores, o tema é central: transparência e enforcement no crédito são fundamentais para proteger consumidores e preservar a integridade do sistema financeiro.

Painel 2: infraestrutura e investimento
O painel de infraestrutura reuniu Marcelo Guaranys (Demarest Advogados), Brenno Machado (Acciona) e Paulo Ricardo Baqueiro de Melo (Nova Infra Invest). Eles reforçaram que a modernização da infraestrutura brasileira depende majoritariamente do capital privado, especialmente em setores como saneamento, logística e energia.
Os debatedores destacaram que o país ainda enfrenta um grande gap em rodovias e ferrovias, prejudicando competitividade e produtividade. Todos concordaram que marcos regulatórios estáveis e contratos robustos são essenciais para atrair investimentos de longo prazo.
O painel também tratou da transformação do BNDES, que vem ampliando sua atuação como estruturador de projetos e indutor do mercado de capitais por meio de debêntures de infraestrutura. Essa mudança diversifica fontes de financiamento e melhora a alocação de risco.
Entre os desafios, foram citados o licenciamento ambiental lento, as incertezas da reforma tributária, a politização de nomeações para agências reguladoras e o déficit de mão de obra qualificada. O recado final foi claro: o pipeline de projetos existe, mas sua viabilidade depende da capacidade institucional do país de oferecer previsibilidade e governança técnica.
Painel 3: cenário econômico, fiscal e perspectivas para 2026
No painel que discutiu perspectivas fiscais e monetárias para 2026, participaram Gustavo José de Guimarães e Souza (Ministro Substituto do Ministério do Planejamento e Orçamento), Tatiana Pinheiro (Galapagos Capital) e Michael Stewart (Arko Advice). Eles destacaram que o Brasil segue preso à lógica de administrar crises de curto prazo, sem enfrentar as causas estruturais do desequilíbrio fiscal.
Guimarães chamou atenção para o peso das despesas obrigatórias, que consomem cerca de 90% do orçamento, reduzindo drasticamente a flexibilidade do Estado. Esse engessamento compromete a capacidade de responder a desafios como envelhecimento populacional e transição energética.
Tatiana Pinheiro ressaltou que há espaço para cortes de juros, mas isso depende diretamente da credibilidade fiscal. Para o mercado, 2027 será um ponto de inflexão: sem uma revisão das regras de indexação e vinculação de gastos, o arcabouço atual perde sustentação.
O tema da desvinculação de benefícios, considerado politicamente sensível, apareceu como inevitável no médio prazo. Como explicou Guimarães, “a matemática se impõe”. O debate impacta diretamente risco país, juros e, consequentemente, os retornos de longo prazo dos portfólios. Para Stewart, em ambiente pré-eleitoral, diferenciar ruído político de mudanças estruturais é fundamental.

Por que esses debates importam para quem investe
Os temas discutidos na Arko Talks 2025 vão muito além da política. Segurança jurídica, integridade institucional, qualidade regulatória e sustentabilidade fiscal moldam o custo de capital, influenciam o apetite de risco e orientam decisões de diversificação no Brasil e no exterior.
Estar próximo dessas discussões é fundamental para transformar esses sinais em estratégias de proteção e crescimento patrimonial. Em um mundo volátil, compreender como as regras do jogo evoluem é essencial para construir longevidade financeira.