Dia 5: O fim de uma era e o começo de outra: política, resiliência e o novo mapa da economia global

O encerramento das Reuniões Anuais do FMI 2025 foi marcado por uma mensagem clara: o mundo entrou em um novo ciclo de realinhamentos políticos e econômicos. Entre populismo e prudência, protecionismo e cooperação, as principais lideranças globais convergiram em torno de um consenso: a resiliência foi comprovada, mas o teste real ainda está por vir.

Os quatro painéis do dia abordaram, sob diferentes ângulos, o impacto crescente da política sobre a economia, a maturidade dos mercados emergentes, a redefinição da globalização e o papel central da criação de empregos sustentáveis como base do novo desenvolvimento global.


Estados Unidos: crescimento resiliente em meio à crise institucional

No painel “Outro ano turbulento à frente no cenário político dos EUA?”, especialistas da UBS e de consultorias políticas norte-americanas traçaram um diagnóstico de prosperidade econômica convivendo com polarização e desordem institucional.

Bruce Melman classificou o momento atual como uma “era de disrupção” — tecnológica, geopolítica e cultural —, em que instituições desenhadas para o século XX tentam responder a desafios do século XXI.
O resultado: uma política volátil, marcada por ciclos curtos de poder e ascensão de lideranças populistas.

A economia, por outro lado, segue surpreendentemente robusta, sustentada por estímulos fiscais ainda em vigor, investimentos recordes e juros em trajetória de queda.
Mas os painelistas alertaram para riscos de reaceleração inflacionária, especialmente se os salários não acompanharem o custo de vida — um ponto decisivo para o humor do eleitorado em 2026.

O debate também trouxe à tona a pressão política sobre o Federal Reserve, com o mercado atento a possíveis tentativas de interferência na instituição. Apesar disso, o consenso foi que a autonomia do Fed deve resistir, ainda que o banco adote um tom mais “dovish” nos próximos meses.
No campo externo, a política comercial americana deve seguir marcada pelo uso tático de tarifas como instrumento de poder, sinalizando que o protecionismo se tornou estrutural e não apenas eleitoral.


Mercados emergentes: resiliência, credibilidade e papel crescente no novo ciclo global

O painel “Mercados Emergentes, Tarifas e Fluxo de Capital”, promovido pela UBS, trouxe uma leitura mais positiva.
Segundo Jason Wu (FMI) e Moritz Schularick (Kiel Institute), os emergentes estão mais preparados do que nunca para enfrentar choques externos, fruto de reformas estruturais, marcos fiscais mais críveis e mercados de dívida domésticos mais profundos.

Hoje, 88% da dívida das grandes economias emergentes é emitida em moeda local, contra 79% há dez anos, e a maior participação de investidores domésticos reduziu a transmissão de choques externos.
As tarifas americanas, embora reforcem a fragmentação global, têm impacto limitado sobre o PIB mundial e efeito levemente desinflacionário.

No caso do Brasil, Daniel Leal destacou o país como um dos emergentes mais sólidos e preparados, com fundamentos fiscais consistentes, mercado de capitais maduro e dívida predominantemente doméstica.
A reforma tributária e a autonomia do Banco Central foram apontadas como vetores de credibilidade, elevando o potencial de crescimento para até 2,5% nos próximos anos.

O painel concluiu que a nova fase dos emergentes exigirá disciplina fiscal, resiliência política e aprofundamento dos mercados locais, qualidades que posicionam o Brasil como um caso de destaque positivo em meio à fragmentação global.


Economia global: o fim da globalização linear e a era da cooperação fragmentada

No painel “A economia global em transformação”, Kristalina Georgieva (FMI), Christine Lagarde (BCE), Tharman Shanmugaratnam (Singapura), Adena Friedman (Nasdaq) e Gordon Hanson (Harvard) debateram o novo formato da globalização.

Georgieva sintetizou o momento com uma frase:

“Estamos piores do que há um ano, mas melhores do que há seis meses.”

Ela apontou instituições mais sólidas e fundamentos mais estáveis, especialmente nos emergentes, mas alertou para três riscos: tensões comerciais, euforia financeira e o inesperado — lembrando que “a próxima crise nunca vem de onde esperamos”.

Lagarde reforçou que a Europa reencontrou um ponto de equilíbrio raro, com inflação e juros próximos de 2%, mas destacou que a política monetária hoje exige mais julgamento e menos automatismo.
Tharman defendeu que as novas pontes comerciais devem surgir entre regiões, não apenas via acordos globais — uma “cooperação fragmentada”, mas funcional.
Já Adena Friedman observou que os mercados já internalizaram esse novo ciclo, com ganhos robustos sustentados por fundamentos e otimismo com a inteligência artificial.

Ao final, Georgieva e Lagarde convergiram: a resiliência global foi testada e aprovada, mas o mundo ainda está longe de um novo equilíbrio duradouro.


Plenária final: emprego, inclusão e o novo contrato de desenvolvimento

A sessão de encerramento do Annual Meeting consolidou a mensagem de que o crescimento global precisa ser mais inclusivo, produtivo e ambientalmente sustentável.

Olavo Correia (Cabo Verde) destacou a importância de instituições sólidas e diversificação econômica para reduzir vulnerabilidades em países de pequena escala.
Em seguida, Ajay Banga (Banco Mundial) apresentou uma agenda de “smart development”, combinando infraestrutura, educação e parcerias público-privadas como motores da geração de emprego — lembrando que 1,2 bilhão de jovens ingressará no mercado de trabalho nos próximos 15 anos, majoritariamente em economias emergentes.

Encerrando o evento, Kristalina Georgieva reforçou que, apesar das tensões geopolíticas e da fragmentação comercial, a economia mundial segue estável e adaptável.
Ela defendeu reformas estruturais voltadas à sustentabilidade fiscal, produtividade e integração regional, destacando o papel do setor privado e da inovação como alicerces do crescimento duradouro.


Síntese do dia

O último dia das Reuniões Anuais do FMI 2025 confirmou o tom que marcou toda a semana:

a economia global resistiu, mas agora precisa provar que consegue crescer com equilíbrio, inclusão e governança em um mundo cada vez mais fragmentado.

Enquanto os Estados Unidos enfrentam a política como risco macroeconômico, os emergentes colhem os frutos da disciplina e das reformas, e as instituições globais buscam reconstruir a cooperação em novas bases.
Resiliência, prudência e propósito serão as palavras-chave da próxima fase.

DISCLAIMER

A presente Nota Macroeconômica (“Nota”) foi elaborada pelo economista-chefe da Galapagos Capital Investimentos e Participações (“Galapagos”) e não se configura como um relatório de análise para fins de Resolução CVM nº 20, de 25 de fevereiro de 2021. Neste sentido, a Galapagos destaca que a Nota reflete única e exclusivamente as opiniões do economista-chefe em relação ao conteúdo apresentado. 

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A Galapagos não se obriga em publicar qualquer revisão ou atualizar referidas projeções e estimativas frente a eventos ou circunstâncias que venham a ocorrer após a data deste documento. Ademais, ao acessar o presente material, o interessado compreende dos riscos relativos ao cenário macroeconômico abordado nesta Nota. 

Produzido por Tatiana Pinheiro, economista-chefe da Galapagos Capital

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