Em linha geral, o painel foi otimista para emergentes, com a avaliação que os mercados emergentes estão mais bem preparados para choques externos graças a reformas e à construção de mercados domésticos robustos. As tarifas dos EUA têm efeitos desinflacionarias e modestos sobre o PIB global, mas reforçam a percepção de fragmentação geoeconômica e erosão da ordem multilateral. Sendo o Brasil destacado positivamente, com fundamentos sólidos, crescimento sustentado por reformas e um manejo fiscal prudente que reforça a credibilidade e reduz vulnerabilidades.
1. Contexto global e resiliência dos emergentes
Wu, do FMI, destacou que os mercados emergentes se tornaram estruturalmente mais resilientes nas últimas duas décadas. Essa resiliência decorre de políticas monetárias e fiscais mais críveis, maior uso de instrumentos macro prudenciais e a construção de mercados de dívida domésticos mais profundos.
Modelos do FMI indicam que, diante de choques globais, o crescimento real do PIB dos emergentes devido à evolução de reformas é cerca de 1 ponto percentual maior e a inflação é 1 ponto percentual menor .
- 88% da dívida dos grandes emergentes já é emitida em moeda local, contra 79% há dez anos.
- Maior participação de investidores domésticos, especialmente fundos de pensão e seguradoras, reduziu a transmissão de choques globais (como o VIX) aos spreads locais.
- Países com sistemas financeiros menos desenvolvidos ainda dependem de bancos e sofrem mais com o “nexo soberano-bancário”, o que amplia vulnerabilidades.
O FMI recomenda aos emergentes menores fortalecer a previsibilidade da emissão de dívida, diversificar a base de investidores e desenvolver mercados secundários e monetários locais para reduzir riscos e aumentar resiliência.
2. Efeitos das tarifas dos EUA sobre emergentes
Schularick apresentou simulações com um modelo de equilíbrio geral de 90 países e 80 setores para medir os efeitos das novas tarifas dos EUA.
As conclusões apontam que:
- O *impacto direto sobre o PIB dos emergentes é moderado, entre –0,5% e –1,5%, sendo México o mais afetado.
- As tarifas funcionam como um choque desinflacionário para o resto do mundo, pois reduzem preços de exportação e pressão inflacionária fora dos EUA.
- O maior prejudicado é o próprio EUA, pois as tarifas afetam toda a sua cadeia de importação e encarecem bens domésticos.
Schularick também discutiu a transição geoeconômica em curso: os EUA, antes provedor global de bens públicos (abertura comercial, estabilidade financeira), passam por um processo de declínio hegemônico, com menor disposição para sustentar a ordem multilateral.
A China surge como o novo grande credor oficial global, substituindo os EUA em muitos fluxos bilaterais, o que reconfigura o sistema financeiro internacional. Ele prevê o dólar permanecendo como moeda forte mas com em um processo de descentralização gradual do dólar e um aumento das tensões entre blocos econômicos, com países emergentes e a Europa “espremidos” entre os dois polos de poder.
3. Discurso de Daniel Leal – Perspectiva do Brasil
Daniel Leal apresentou um diagnóstico otimista e estruturado sobre o Brasil, enfatizando a solidez macroeconômica e a qualidade da resposta às tensões comerciais. Seus principais pontos:
- Crescimento mais robusto e sustentável:
O Brasil passou de um potencial de 1% para 2–2,5%, graças às reformas estruturais desde 2016 — previdenciária, teto de gastos, autonomia do BC e, mais recentemente, a reforma tributária, que deve adicionar cerca de 0,5 p.p. ao PIB potencial até 2032. - Capital de longo prazo e investimentos privados:
A formação de um mercado de capitais mais desenvolvido permitiu que empresas financiassem investimentos de longo prazo sem depender do Estado, especialmente no setor de energia, eliminando gargalos históricos. - Gestão fiscal e dívida pública:
Desde 2015, o país vem reduzindo o déficit primário e se aproximando de equilíbrio estrutural. O estímulo fiscal pós-pandemia foi pontual e controlado.
Leal destacou que 96% da dívida pública é em moeda local, e 90% está nas mãos de investidores domésticos, com base diversificada (fundos, bancos, seguradoras e estrangeiros em apenas 10%).
Isso confere alta capacidade de rolagem e menor vulnerabilidade cambial — mesmo com dívida/PIB mais elevada que pares emergentes. - Resiliência frente às tarifas americanas (“Tatiana tariffs”):
O governo brasileiro reagiu com pragmatismo , sem retaliações, concentrando apoio apenas nos setores realmente afetados e mantendo disciplina fiscal (impacto limitado a R$ 5 bi).
O Brasil se beneficiou de diversificação comercial e de uma economia interna forte, o que mitigou o impacto das tarifas. Como resultado, o PIB não foi revisado para baixo, contrariando expectativas iniciais.
Próximos passos:
Leal reconheceu que o desafio atual é levar a inflação à meta, o que permitirá ao BC iniciar o ciclo de corte de juros e consolidar um ambiente mais favorável a investimentos.
Segundo ele, a inflação está controlada, mas ainda acima da meta, exigindo política monetária restritiva até maior convergência.
Em síntese, o painel convergiu na visão de que a próxima fase exigirá disciplina fiscal, aprofundamento dos mercados locais e resiliência política — e, nesse contexto, o Brasil aparece como um dos emergentes mais preparados para enfrentar a nova ordem global fragmentada.
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