UBS: Mensagens do Diretor de Politica Monetária, Nilton David (BCB)

Em síntese, o cenário descrito por Nilton David é de economia ainda aquecida, inflação em desaceleração gradual e política monetária firmemente restritiva. O BC encontra-se em fase de observação, avaliando os efeitos acumulados das altas passadas.

A mensagem foi dura, sinalizando continuidade e prudência. Cortes só virão quando houver evidência clara de convergência sustentada da inflação à meta, e se isso não ocorrer, a autoridade monetária está disposta a manter ou até apertar mais para garantir o cumprimento do mandato legal de estabilidade de preços.

  1. Cenário Econômico

O Brasil vem exibindo crescimento acima do potencial, o que levou a economia a operar com “slack negativo” — ou seja, acima de sua capacidade. A atividade segue robusta, refletida em níveis historicamente baixos de desemprego e renda real elevada. O investimento em infraestrutura continua crescendo, e o índice de miséria (soma de inflação e desemprego) está no menor patamar histórico, o que indica uma economia aquecida mesmo sob juros elevados. Logo, o aperto monetário não é excessivo.

A inflação, após o pico de 2021, vem cedendo gradualmente, com expectativas ancorando-se lentamente. O real apreciou cerca de 15% no ano, metade por fatores domésticos e metade pela desvalorização global do dólar. O mercado de juros futuros vem precificando queda nas taxas implícitas ao longo de 2025, e as curvas indicam menor volatilidade e percepção de risco após as últimas decisões do Copom.

  1. Política Monetária e Condição Atual (“Parada Prolongada”)
    Nilton destacou que o Banco Central conduziu uma sequência de altas fortes em resposta à perda de ancoragem das expectativas e às incertezas externas. O ciclo de aperto iniciado num patamar de juros ja alto. A interrupção do ciclo de alta em junho de 2025 foi definida como uma decisão “ousada, porém necessária”.
    Segundo ele, hoje o Comitê tem “convicção razoável” de que o nível atual da Selic já se encontra mais restritivo do que o necessário em condições normais, o que justificava uma pausa para avaliar os efeitos defasados da política monetária. Essa “parada” não deve ser lida como sinal de corte, mas a adoção de uma postura de espera paciente, em função da incerteza elevada e do risco de reagir a ruídos de curto prazo.
  2. Mensagens-Chave para a Política Monetária à Frente
    Nilton David enfatizou três princípios que guiam o Banco Central neste momento:
    • Firmeza, para manter a política monetária suficientemente restritiva até que a convergência da inflação à meta se consolide;
    • Serenidade, para não reagir a ruídos temporários em dados de atividade ou inflação;
    • Paciência, para observar os efeitos cumulativos dos juros altos, reconhecendo a defasagem de transmissão na economia brasileira.

Ele reforçou que o Brasil é uma economia de expectativas inflacionárias “backward-looking” — mais sensíveis ao passado recente —, o que torna a desinflação mais lenta e exige juros mais altos e persistentes.

  1. Indicadores e Condições para Eventuais Cortes ou Novas Altas
    O diretor deixou claro que não há previsão ou guidance sobre cortes, pois a incerteza é muito alta. O início de um ciclo de afrouxamento dependerá de um conjunto coerente de dados , e não de um indicador isolado , mostrando:
    • Desinflação consistente e convergente à meta de 3%;
    • Expectativas de inflação ancoradas, inclusive no Focus;
    • Atividade convergindo ao potencial (redução do excesso de demanda);
    • Menor dispersão entre indicadores de setores e inflação de serviços em desaceleração.

Se esses fatores não se materializem, ou surjam riscos de desancoragem das expectativas, o BC pode manter a taxa por mais tempo ou até voltar a subir.

  1. Pergunta sobre juro real neutro
    Nilton explicou que o BC trabalha com uma estimativa estrutural de cerca de 5% reais, inferior às percepções de mercado (6%–7%), por entender que o nível neutro deve refletir fatores estruturais e não choques temporários. Entretanto, reconheceu que, dadas as incertezas e os “one-offs” (como decisões judiciais e tributárias que impulsionaram a atividade), o BC optou por manter-se mais apertado que o normal. Afirmou que o tempo e a evolução dos dados dirão “quem estava menos errado”, reforçando a natureza incerta dessa estimativa.
  2. Perguntas sobre Expectativas e Condições Fiscais
    Nilton reiterou que o BC não trabalha com cenários hipotéticos de medidas fiscais em tramitação, mas reconhece que o ambiente fiscal expansionista pode retardar a convergência da inflação e, portanto, prolongar a necessidade de juros altos. Ele também destacou que a credibilidade do BC segue preservada, e que o Focus já incorpora parte dessas percepções.

DISCLAIMER
A presente Nota Macroeconômica (“Nota”) foi elaborada pelo economista-chefe da Galapagos Capital Investimentos e Participações (“Galapagos”) e não se configura como um relatório de análise para fins de Resolução CVM nº 20, de 25 de fevereiro de 2021. Neste sentido, a Galapagos destaca que a Nota reflete única e exclusivamente as opiniões do economista-chefe em relação ao conteúdo apresentado. O objetivo meramente informativo da Nota não deverá ser interpretado como uma oferta ou solicitação de oferta para aquisição de valores mobiliários ou a venda de qualquer instrumento financeiro. Este material não leva em consideração os objetivos, planejamento estratégico, situação financeira ou necessidades específicas de qualquer investidor em particular. A Galapagos também destaca que as informações contidas na Nota foram obtidas por meio de fontes públicas consideradas seguras e confiáveis na data em que o material foi divulgado. Entretanto, apesar da diligência na obtenção das informações apresentadas, as projeções e estimativas contidas na Nota não devem ser interpretadas como garantia de performance futura pois estão sujeitas a riscos e incertezas que podem ou não se concretizar. Neste sentido, a Galapagos não apresenta nenhuma garantia acerca da confiabilidade, exatidão, integridade ou completude (expressas ou não) dessas mesmas informações abordadas. A Galapagos não se obriga em publicar qualquer revisão ou atualizar referidas projeções e estimativas frente a eventos ou circunstâncias que venham a ocorrer após a data deste documento. Ademais, ao acessar o presente material, o interessado compreende dos riscos relativos ao cenário macroeconômico abordado nesta Nota.
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