Dia 3: O desafio de equilibrar finanças públicas, inovação e resiliência climática

O terceiro dia das Reuniões Anuais do FMI foi marcado por um tema transversal: como sustentar o crescimento global em um ambiente de restrições fiscais, avanço tecnológico acelerado e riscos climáticos crescentes.

Os debates se concentraram em três painéis — Política Fiscal Global, Produtividade na Era Digital e Resiliência a Desastres Naturais —, todos conectados por uma ideia comum: crescimento sustentável exige planejamento de longo prazo, eficiência no uso de recursos e capacidade de adaptação a choques tecnológicos e ambientais.


Política fiscal global: ajuste, credibilidade e eficiência

No Informativo de Política Fiscal do FMI, o Fundo destacou que, após anos de políticas expansionistas, a consolidação fiscal voltou ao centro da agenda global.
A mensagem é clara: sem credibilidade fiscal, não há crescimento sustentável.

O FMI propôs três pilares como guia de política pública — ajuste, credibilidade e eficiência —, com recomendações específicas para as principais economias:

  • Brasil: precisa avançar em um ajuste mais robusto e antecipado, com foco em eficiência do gasto público, melhor composição orçamentária e construção de buffers fiscais para resistir a choques. O país é citado como caso em que o custo da dívida, impulsionado por juros altos, limita a margem de manobra do governo.
  • Estados Unidos: o desafio é consolidar gradualmente as contas públicas, preservando a credibilidade de longo prazo em meio a déficits persistentes e gastos crescentes com defesa, envelhecimento populacional e transição energética.
  • China: deve requalificar o gasto, priorizando inovação e proteção social, a fim de reequilibrar o crescimento para o consumo doméstico e reduzir vulnerabilidades externas.

Em termos regionais, o FMI reforçou que América Latina e Europa precisam avançar em reformas fiscais e tributárias, enquanto os países da ASEAN devem concentrar esforços em eficiência e combate à corrupção.
A orientação é inequívoca: disciplinar o gasto público é pré-condição para crescer com estabilidade.


Produtividade e inovação: a nova fronteira do crescimento

O painel “Aumentando o Crescimento da Produtividade na Era Digital” abordou um dos temas mais estratégicos da semana: como a inteligência artificial e a transformação digital podem impulsionar — ou ampliar — as desigualdades globais.

O FMI estima que mais da metade da desaceleração recente da economia global decorre da queda de produtividade, não da falta de inovação.
A tecnologia existe, mas a difusão é lenta e desigual. Pequenas e médias empresas — principais geradoras de emprego — enfrentam escassez de capital, infraestrutura precária e lacunas de qualificação, o que impede que os ganhos tecnológicos se espalhem.

Os painelistas reforçaram que a IA pode adicionar até 0,8 p.p. ao crescimento global, mas apenas se for acompanhada de infraestrutura, requalificação de trabalhadores e regulação inteligente — capaz de equilibrar inovação e segurança.
A economista-chefe do FMI, Kristalina Georgieva, resumiu:

“A IA é transformadora, mas não tornará o mundo melhor por inércia. É preciso acelerar a adaptação global — e rápido.”

A recomendação: governos devem usar espaço fiscal e regulatório para apoiar a adoção tecnológica e preparar trabalhadores, com políticas de requalificação, apoio a PMEs e incentivos condicionados a resultados concretos.
Em paralelo, uma governança macro prudente é essencial para monitorar riscos financeiros associados ao boom tecnológico.


Resiliência climática: integrar riscos naturais à gestão fiscal

Encerrando o dia, o painel “Fortalecendo a Resiliência em um Mundo Propenso a Desastres Naturais” trouxe à tona o elo entre sustentabilidade fiscal e adaptação climática.
O FMI alertou que, embora muitos países já incluam o risco climático em seus orçamentos, a infraestrutura institucional ainda está aquém do necessário.

A recomendação central é integrar plenamente o risco de desastres à gestão fiscal — desde avaliações orçamentárias até mecanismos automáticos de financiamento em emergências.
Entre as propostas:

  • Criação de fundos de contingência e créditos contingentes com gatilhos automáticos;
  • Ampliação de seguros paramétricos e títulos catastróficos (cat bonds);
  • Estabelecimento de unidades de finanças climáticas nos ministérios e padrões de investimento resiliente;
  • Condicionar repasses internacionais ao desempenho em preparação e resposta a desastres.

A mensagem do painel foi pragmática: resiliência não é apenas uma agenda ambiental — é uma questão de estabilidade fiscal e social.


Síntese do dia

O terceiro dia das Reuniões Anuais do FMI 2025 reforçou que crescimento, inovação e sustentabilidade caminham juntos — mas exigem disciplina fiscal e instituições fortes.

Sem espaço fiscal, não há investimento em tecnologia. Sem produtividade, não há crescimento sustentável. E sem resiliência climática, não há estabilidade de longo prazo.

Enquanto os países desenvolvidos equilibram endividamento e transição tecnológica, as economias emergentes enfrentam o desafio duplo de crescer com responsabilidade e se adaptar a um mundo de riscos cada vez mais imprevisíveis.

DISCLAIMER

A presente Nota Macroeconômica (“Nota”) foi elaborada pelo economista-chefe da Galapagos Capital Investimentos e Participações (“Galapagos”) e não se configura como um relatório de análise para fins de Resolução CVM nº 20, de 25 de fevereiro de 2021. Neste sentido, a Galapagos destaca que a Nota reflete única e exclusivamente as opiniões do economista-chefe em relação ao conteúdo apresentado. 

Por último, a Galapagos e/ou qualquer outra empresa de seu grupo econômico não se responsabiliza por qualquer decisão do investidor que forem tomados com base nas informações aqui divulgadas, nem por ato praticado por profissionais por ele consultados e tampouco pela publicação acidental de informações incorretas. A Galapagos informa que potenciais investidores devem buscar aconselhamento financeiro profissional sobre a adequação do investimento em valores mobiliários ou outros investimentos e estratégias discutidas

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A Galapagos não se obriga em publicar qualquer revisão ou atualizar referidas projeções e estimativas frente a eventos ou circunstâncias que venham a ocorrer após a data deste documento. Ademais, ao acessar o presente material, o interessado compreende dos riscos relativos ao cenário macroeconômico abordado nesta Nota. 

Produzido por Tatiana Pinheiro, economista-chefe da Galapagos Capital

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