A resiliência dos Mercados Emergentes — Sorte ou boas políticas?

Os mercados emergentes demonstram uma resiliência inédita diante de choques financeiros globais. O que antes era sinônimo de vulnerabilidade – fugas de capitais, desvalorizações abruptas e recessões profundas em períodos de aversão ao risco – hoje revela um novo cenário de estabilidade conquistada. O Fundo Monetário Internacional (FMI) sustenta que essa transformação não é fruto de sorte, mas resultado direto de políticas econômicas mais sólidas, implementadas de forma consistente ao longo das últimas duas décadas.

Nas décadas anteriores à crise financeira global, episódios de “risk-off” provocavam fortes saídas de capital, desvalorizações cambiais acentuadas e aceleração inflacionária, forçavam os bancos centrais a apertarem a política monetária o que aprofundava a contração econômica nos países emergentes. Desde a crise de 2008, esse padrão se alterou. Choques semelhantes, mais recentemente, têm produzido respostas muito mais moderadas: com saídas de capital limitadas, depreciações cambiais controladas e efeitos reduzidos sobre a inflação. O FMI sintetiza: os mercados emergentes tornaram-se mais resilientes aos choques globais de risco.

Essa evolução decorre de mudanças estruturais nas políticas econômicas, não de um ambiente externo favorável. O estudo do FMI compara duas hipóteses – “boa sorte” versus “boas políticas” – e conclui que os ganhos de resiliência derivam da segunda. Estimativas indicam que o *fortalecimento dos arcabouços das políticas monetária e fiscal contribuíram com 0,5 ponto percentual de crescimento e reduziu em 0,6 ponto percentual a inflação média durante choques de aversão ao risco após a crise global.

Três pilares sustentam esse avanço. No campo monetário, a independência dos bancos centrais e o ancoramento das expectativas de inflação reduziram a dependência do câmbio e permitiram políticas mais focadas na estabilidade doméstica. A superação da chamada “dominância fiscal” – situação em que a política monetária era subordinada ao financiamento do gasto público – deu às autoridades monetárias maior credibilidade e capacidade de resposta. Na política fiscal, governos passaram a atuar de forma mais contracíclica, ampliando estímulos em períodos de desaceleração e reconstruindo buffers em fases de expansão. Por fim, políticas macroprudenciais mais robustas – com foco em gestão de riscos cambiais e fortalecimento do sistema financeiro – complementaram o arcabouço de estabilidade.

Ainda assim, o FMI adverte que essa conquista não garante imunidade futura. O espaço fiscal permanece limitado após sucessivos choques, e o ciclo inflacionário pós-pandemia pode ter enfraquecido o ancoramento das expectativas. A principal ameaça, porém, vem de dentro: a reversão das boas práticas que sustentaram o progresso. A mensagem é clara: manter a independência dos bancos centrais, respeitar regras fiscais e evitar retrocessos institucionais são condições essenciais para preservar os ganhos obtidos.

A recomendação do Fundo é pragmática. Países emergentes devem aproveitar o período de relativa estabilidade para reconstruir reservas fiscais e reforçar credibilidade monetária. Também é necessário revisar e fortalecer, de forma coordenada, os três pilares – monetário, fiscal e macroprudencial – garantindo sua coerência e complementaridade. Com instituições sólidas, transparência e disciplina, os mercados emergentes podem transformar a resiliência conquistada a duras penas em estabilidade duradoura.

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A presente Nota Macroeconômica (“Nota”) foi elaborada pelo economista-chefe da Galapagos Capital Investimentos e Participações (“Galapagos”) e não se configura como um relatório de análise para fins de Resolução CVM nº 20, de 25 de fevereiro de 2021. Neste sentido, a Galapagos destaca que a Nota reflete única e exclusivamente as opiniões do economista-chefe em relação ao conteúdo apresentado. O objetivo meramente informativo da Nota não deverá ser interpretado como uma oferta ou solicitação de oferta para aquisição de valores mobiliários ou a venda de qualquer instrumento financeiro. Este material não leva em consideração os objetivos, planejamento estratégico, situação financeira ou necessidades específicas de qualquer investidor em particular. A Galapagos também destaca que as informações contidas na Nota foram obtidas por meio de fontes públicas consideradas seguras e confiáveis na data em que o material foi divulgado. Entretanto, apesar da diligência na obtenção das informações apresentadas, as projeções e estimativas contidas na Nota não devem ser interpretadas como garantia de performance futura pois estão sujeitas a riscos e incertezas que podem ou não se concretizar. Neste sentido, a Galapagos não apresenta nenhuma garantia acerca da confiabilidade, exatidão, integridade ou completude (expressas ou não) dessas mesmas informações abordadas. A Galapagos não se obriga em publicar qualquer revisão ou atualizar referidas projeções e estimativas frente a eventos ou circunstâncias que venham a ocorrer após a data deste documento. Ademais, ao acessar o presente material, o interessado compreende dos riscos relativos ao cenário macroeconômico abordado nesta Nota. Por último, a Galapagos e/ou qualquer outra empresa de seu grupo econômico não se responsabiliza por qualquer decisão do investidor que forem tomados com base nas informações aqui divulgadas, nem por ato praticado por profissionais por ele consultados e tampouco pela publicação acidental de informações incorretas. A Galapagos informa que potenciais investidores devem buscar aconselhamento financeiro profissional sobre a adequação do investimento em valores mobiliários ou outros investimentos e estratégias discutidas.

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