Coletiva de Imprensa: Estabilidade Financeira Global

A estabilidade aparente dos mercados financeiros globais esconde fragilidades estruturais que preocupam o Fundo Monetário Internacional (FMI). Após uma recuperação significativa desde abril, com condições financeiras ainda favoráveis em grande parte das economias, o cenário descrito pelo Global Financial Stability Report é de uma “calma inquieta”: um ambiente que parece estável, mas sustentado por bases vulneráveis.

Três riscos principais explicam essa tensão. O primeiro é a valorização excessiva dos ativos, especialmente das ações, cujo nível elevado as torna sensíveis a correções abruptas. O segundo é a interligação entre mercados e instituições financeiras não bancárias, onde uma queda nos preços pode desencadear resgates e pressões adicionais de liquidez. O terceiro é o aumento dos rendimentos de longo prazo dos títulos soberanos, impulsionado por preocupações fiscais crescentes, que pode amplificar riscos tanto para bancos quanto para investidores institucionais.

Para o FMI, a mensagem central é clara: mesmo sob condições favoráveis, os riscos macrofinanceiros permanecem elevados e exigem vigilância.

Nos mercados emergentes, a conjuntura é mais benigna. A depreciação do dólar e a liquidez global facilitaram o acesso ao financiamento externo e aliviaram pressões cambiais. Ainda assim, o FMI adverte que este não é o momento para complacência. Países como Sri Lanka, que se recuperam de reestruturações de dívida, devem aproveitar a janela de estabilidade para reforçar fundamentos fiscais, equilibrar contas externas e aprofundar mercados domésticos de capitais. O desenvolvimento desses mercados é visto como essencial para reduzir a dependência de fluxos voláteis e fortalecer a resiliência financeira.

Nos mercados desenvolvidos (economia avançadas), o foco desloca-se para a transformação estrutural dos mercados de títulos. O prêmio de prazo — compensação adicional exigida por investidores para manter títulos longos — voltou a níveis não observados desde antes da crise financeira global. Esse movimento reflete a maior oferta líquida de dívida pública decorrente de déficits fiscais e do aperto quantitativo, além da mudança na correlação entre ações e títulos. O resultado é um custo de financiamento estruturalmente mais alto e uma menor capacidade dos títulos públicos de atuarem como proteção em períodos de aversão ao risco.

No mercado acionário, as avaliações seguem esticadas, com concentração significativa em empresas de tecnologia e inteligência artificial nos Estados Unidos. O FMI alerta que, embora a regulação bancária pós-2008 tenha fortalecido o sistema tradicional, revisões regulatórias devem preservar sua robustez. Já no segmento de criptoativos, o crescimento dos stablecoins – hoje em torno de 400 bilhões de dólares – reforça a importância de um arcabouço regulatório consistente, em linha com as diretrizes já adotadas em Estados Unidos, União Europeia e Japão.

A combinação de ativos supervalorizados, riscos fiscais crescentes e forte presença de intermediários não bancários cria um equilíbrio delicado. Para o FMI, líderes e investidores devem agir com prudência. Nos emergentes, a prioridade é usar o período de estabilidade para consolidar fundamentos e ampliar o financiamento doméstico. Nas economias avançadas, é essencial implementar planos fiscais críveis que evitem pressão adicional sobre os prêmios de prazo e os custos de dívida. É preciso não confundir calmaria com segurança.

DISCLAIMER

A presente Nota Macroeconômica (“Nota”) foi elaborada pelo economista-chefe da Galapagos Capital Investimentos e Participações (“Galapagos”) e não se configura como um relatório de análise para fins de Resolução CVM nº 20, de 25 de fevereiro de 2021. Neste sentido, a Galapagos destaca que a Nota reflete única e exclusivamente as opiniões do economista-chefe em relação ao conteúdo apresentado. O objetivo meramente informativo da Nota não deverá ser interpretado como uma oferta ou solicitação de oferta para aquisição de valores mobiliários ou a venda de qualquer instrumento financeiro. Este material não leva em consideração os objetivos, planejamento estratégico, situação financeira ou necessidades específicas de qualquer investidor em particular. A Galapagos também destaca que as informações contidas na Nota foram obtidas por meio de fontes públicas consideradas seguras e confiáveis na data em que o material foi divulgado. Entretanto, apesar da diligência na obtenção das informações apresentadas, as projeções e estimativas contidas na Nota não devem ser interpretadas como garantia de performance futura pois estão sujeitas a riscos e incertezas que podem ou não se concretizar. Neste sentido, a Galapagos não apresenta nenhuma garantia acerca da confiabilidade, exatidão, integridade ou completude (expressas ou não) dessas mesmas informações abordadas. A Galapagos não se obriga em publicar qualquer revisão ou atualizar referidas projeções e estimativas frente a eventos ou circunstâncias que venham a ocorrer após a data deste documento. Ademais, ao acessar o presente material, o interessado compreende dos riscos relativos ao cenário macroeconômico abordado nesta Nota. Por último, a Galapagos e/ou qualquer outra empresa de seu grupo econômico não se responsabiliza por qualquer decisão do investidor que forem tomados com base nas informações aqui divulgadas, nem por ato praticado por profissionais por ele consultados e tampouco pela publicação acidental de informações incorretas. A Galapagos informa que potenciais investidores devem buscar aconselhamento financeiro profissional sobre a adequação do investimento em valores mobiliários ou outros investimentos e estratégias discutidas

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