O ponto de partida foi o aumento expressivo das tarifas bilaterais — de cerca de 3% para 19% nos EUA sobre produtos chineses, e mais de 20% nas tarifas chinesas sobre produtos americanos entre 2018 e 2019 (primeira administração Trump). A expectativa inicial era de forte retração no comércio global, mas a experiência asiática mostrou uma realidade mais complexa e, em alguns casos, positiva.
Este estudo demonstrou que alguns países do Sudeste Asiático transformaram o choque em oportunidade, reposicionando-se nas cadeias globais de valor. Exemplos foram: Vietnã e Tailândia, que ampliaram suas exportações de produtos alvo das tarifas em mais de 13% nos dois primeiros anos e 18% nos anos seguintes. No caso do Vietnã, esses ganhos refletiram expansão real da produção doméstica, e não apenas redirecionamento de comércio (“trade rerouting”), indicando maior criação de valor agregado para o país.
O estudo também identificou que os fluxos de investimento direto estrangeiro (FDI) tiveram papel decisivo. No Vietnã, os setores mais atingidos pelas tarifas entre EUA e China receberam cerca de um terço a mais de projetos de investimento do que outros setores, ampliando a capacidade produtiva e sustentando os ganhos de exportação no médio prazo. Esta foi a estratégia que China encontrou para fugir da tarifação dos EUA: expandir sua produção para outros países. Entretanto, nem todos os países da ASEAN apresentaram o mesmo sucesso. Os resultados variaram conforme: 1) o grau de integração às cadeias globais e 2) a abertura ao investimento estrangeiro.
A principal lição destacada é que a resiliência e os ganhos de longo prazo vêm i) da abertura comercial, ii) da inserção profunda nas cadeias de valor e iii) da capacidade de elevar o valor agregado doméstico.
De onde vem as três recomendações de política deste estudo:
1. Manter os mercados abertos;
2. Fortalecer as ligações nas cadeias globais de suprimento;
3. Aumentar o valor agregado doméstico para transformar choques comerciais em crescimento sustentável.
A conclusão é que estruturas econômicas abertas e integradas podem mitigar choques externos e até convertê-los em vantagens competitivas, ponto crucial no cenário atual de crescente fragmentação e protecionismo.
Produzido por Tatiana Pinheiro, economista-chefe da Galapagos Capital
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