FMI 2025: Reformas, Tarifas e Incertezas Marcam o Quarto Dia de Debates

No quarto dia dos debates do FMI 2025, a economista-chefe da Galapagos Capital, Tatiana Pinheiro, acompanhou discussões que conectaram temas macroeconômicos globais, como disciplina fiscal, comércio internacional e política monetária, a decisões práticas que já influenciam os rumos dos investimentos. O cenário internacional exige atenção e compreensão profunda, especialmente em um momento de fragilidade no crescimento global, tensões comerciais e desafios fiscais em diversas economias.

Uma Agenda para Realinhamento Global

A diretora-geral do FMI, Kristalina Georgieva, apresentou a nova Agenda de Políticas do Fundo com um recado direto aos países membros: é hora de colocar a casa em ordem. A avaliação é que o crescimento global permanece frágil e que sua recuperação está condicionada à implementação de reformas estruturais, à manutenção da disciplina fiscal e ao fortalecimento da cooperação internacional. Os países de baixa renda enfrentam desafios ainda maiores para equilibrar o combate à inflação com a necessidade de proteger investimentos estratégicos. Nessa perspectiva, o FMI reforça que temas como mudanças climáticas e equidade de gênero não podem mais ser tratados como periféricos, pois impactam diretamente a estabilidade macroeconômica global.

A China, uma das principais economias do mundo, teve sua projeção de crescimento revisada de 4,6% para 4%. O FMI recomenda que o país redirecione seus esforços para estimular o consumo interno e reduzir a intervenção estatal. Já a Argentina foi elogiada por avanços na redução da inflação e da pobreza, enquanto os países africanos foram lembrados da importância de ampliar a arrecadação e promover a integração comercial regional. O recado geral é claro: o atual ciclo não é de aceleração, mas de realinhamento. Reformas, digitalização e maior integração regional devem ser as bases para uma retomada mais sustentável.

Comércio Internacional sob Pressão

Outro tema de destaque no quarto dia dos Spring Meetings foi o impacto das tarifas comerciais sobre a confiança internacional e o comércio global. O painel sobre tarifas dos Estados Unidos mostrou que o maior risco não está nas medidas em si, mas na erosão das instituições que sustentam o comércio multilateral, como a Organização Mundial do Comércio (OMC). As tarifas americanas, justificadas por motivos de segurança nacional, colocam em xeque os princípios fundamentais do sistema internacional de comércio e acendem um alerta para os efeitos da fragmentação comercial. A previsão é de que o comércio global de bens possa recuar 0,2% em 2025, e esse impacto pode ser ainda mais profundo caso haja retaliações generalizadas, com uma queda estimada de até 0,6 ponto percentual.

Além disso, o impacto direto das tarifas sobre o emprego é considerado modesto, já que a indústria global está cada vez mais automatizada. Especialistas apontam que uma política fiscal mais eficiente seria mais eficaz para o ajuste do déficit comercial americano do que o aumento de barreiras. O FMI alerta que é fundamental fortalecer o multilateralismo e restaurar a confiança nas regras internacionais, antes que retrocessos institucionais se tornem permanentes.

A Nova Dinâmica da Política Monetária

Em um contexto marcado por choques sucessivos como guerras, inflação persistente e novas barreiras comerciais, os bancos centrais têm enfrentado o desafio de ajustar suas políticas monetárias com agilidade e precisão. Uma das principais lições destacadas nos painéis é a necessidade de abandonar modelos fixos e adotar respostas que considerem a natureza de cada choque, seja de oferta ou de demanda. A resposta tardia à inflação, em muitos casos, foi seguida por ações eficazes, que resultaram na queda dos índices inflacionários com impactos limitados sobre a atividade.

Nos Estados Unidos, a recomendação é a manutenção de juros elevados para preservar a ancoragem das expectativas inflacionárias. Na Europa, por outro lado, as tarifas têm atuado como um choque de demanda, o que pode abrir espaço para cortes de juros nos próximos meses. Uma política monetária eficaz, segundo os especialistas, precisa se apoiar em três pilares fundamentais: a adaptação constante dos instrumentos às novas realidades, o julgamento criterioso dos limites dos modelos tradicionais e a manutenção da credibilidade institucional, com a plena independência dos bancos centrais. A coordenação entre política monetária e política fiscal também foi ressaltada como essencial, sobretudo no contexto europeu, onde o Banco Central Europeu tem assumido responsabilidades desproporcionais nos últimos anos.

O Caso Brasileiro: Cautela em Meio às Incertezas

O Brasil também foi pauta importante nas discussões do dia. O Banco Central brasileiro reforçou que o ciclo de alta de juros ainda não está encerrado, diante de um cenário de incerteza tanto inflacionária quanto fiscal. As expectativas de inflação continuam desancoradas, e os sinais de desaceleração da atividade ainda são tímidos. O consumo e os investimentos mostram alguma perda de fôlego, embora o mercado de trabalho permaneça aquecido. A autoridade monetária brasileira tem adotado uma postura cautelosa, evitando compromissos antecipados e reconhecendo a lentidão da transmissão dos efeitos da política monetária sobre a economia. Medidas recentes relacionadas ao crédito consignado ainda geram dúvidas sobre sua efetividade para estimular o consumo. Nesse cenário, o atual nível de juros é altamente restritivo, mas o Banco Central continua avaliando os impactos das medidas fiscais e os estímulos vigentes antes de sinalizar qualquer mudança de rumo.

Fique de olho: Um Novo Ciclo Econômico Global à Vista

O quarto dia do Spring Meetings do FMI deixou claro que o mundo está diante de um momento de transição e reequilíbrio. Para os investidores, é essencial acompanhar de perto os desdobramentos dessas decisões globais e compreender os vetores que moldarão os próximos ciclos econômicos. Disciplina fiscal, reformas estruturais, estabilidade institucional e uma nova governança comercial internacional estão no centro das discussões e serão determinantes para a evolução dos mercados nos próximos anos.

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Produzido por Tatiana Pinheiro, economista-chefe da Galapagos Capital 

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