Como os reguladores estão se posicionando frente à IA
Os Impactos Reais da Inteligência Artificial já são protagonistas nas decisões do mercado financeiro global, mas será que estamos prontos para seus riscos? Durante o 1° Painel do primeiro dia dos Spring Meetings do FMI 2025, as discussões giraram em torno de um tema que vem ganhando cada vez mais protagonismo: a Inteligência Artificial e suas implicações para a estabilidade financeira.
A conversa enfatizou o potencial da IA para impulsionar a competitividade e aprimorar o atendimento ao cliente nas instituições financeiras. Ao mesmo tempo, foram destacados riscos importantes, como a necessidade de maior transparência, explicabilidade, equidade e a prevenção de crimes financeiros.
O FMI observou uma rápida adoção da IA nos mercados de capitais, ilustrada pelo aumento de 50 pontos percentuais nas patentes que mencionam o uso da tecnologia, além da expansão significativa nas vagas de trabalho relacionadas à IA. Nesse contexto, surgem preocupações relevantes: riscos de concentração, velocidade dos ajustes do mercado, possibilidade de manipulação e a crescente dependência de terceiros.
A FSA (Financial Services Agency) reforçou a necessidade de uma regulação orientada a resultados, focada em governança clara e supervisão efetiva. Já a IOSCO (International Organization of Securities Commissions) chamou atenção para temas como integridade do mercado, proteção ao investidor e estabilidade financeira.
A FSA também anunciou o lançamento de uma mesa-redonda que reunirá reguladores, desenvolvedores de IA, usuários e acadêmicos, com o objetivo de fomentar o debate sobre o tema e fortalecer o engajamento e o diálogo para otimizar o uso da IA no setor financeiro.
Impacto no mercado de trabalho e produtividade
O FMI destacou que o crescimento no número de patentes e vagas de emprego ligadas à IA ao longo da última década evidencia o impacto transformador da tecnologia na produtividade do mercado de trabalho e da economia real. Essa rápida adoção inclui o uso da IA na automação de processos, gestão de riscos e aprimoramento da liquidez nos mercados de capitais.
Ao mesmo tempo, os painelistas alertaram para a natureza ainda enigmática da IA e a necessidade de reguladores entenderem seu funcionamento nas finanças. O avanço contínuo do machine learning, com o uso de volumes de dados cada vez maiores e técnicas mais sofisticadas, além da aplicação de IA generativa no processamento de dados e na criação de scripts para aumentar a eficiência, reforça a importância de estabelecer práticas robustas de validação e gestão de riscos.
Implicações da IA para a estabilidade financeira
Entre os riscos levantados, destacam-se:
- Riscos de concentração de mercado;
- Velocidade excessiva de ajustes nos mercados;
- Manipulação e viés algorítmico;
- Ineficiências;
- Dependência de fornecedores externos para modelos de IA/ML e entradas de dados, aumentando vulnerabilidades a falhas operacionais.
Abordagem do FMI à regulação da IA
O FMI propõe uma abordagem de regulação baseada no esclarecimento, na aproximação e na cooperação, evitando uma postura punitiva. O fundo reforçou a importância de compreender os impactos da IA sobre a estabilidade financeira e a integridade do mercado.
Entre as recomendações, estão:
- Coletar mais dados e aumentar a compreensão das grandes instituições;
- Criar redes de proteção para mercados voláteis;
- Mapear interdependências e promover práticas comuns;
- Incentivar a cooperação internacional para enfrentar os riscos e vulnerabilidades relacionados à IA.
Abordagem da FSA à regulação da IA
A FSA defende que a regulação da IA seja orientada por resultados e focada nos deveres para com o consumidor. Reforçou a relevância de utilizar marcos regulatórios já existentes e garantir a clareza na governança da tecnologia. Destacou ainda o uso das chamadas “sprint sandboxes”, que permitem testar novos modelos e tecnologias em ambientes controlados para lidar com incertezas regulatórias.
Papel da IOSCO na governança da IA
A IOSCO, por sua vez, assumiu o compromisso de promover um entendimento comum e estimular boas práticas de governança da IA. Foram levantadas questões importantes, como:
- Riscos de concentração e “alucinações” da IA;
- Governança da IA autônoma;
- Potencial dos “microscópios de IA” para gerar insights sobre o funcionamento interno dos algoritmos.
A organização reforçou que é fundamental aproveitar o potencial da tecnologia, sem perder de vista a gestão responsável dos riscos.
A discussão sobre IA no sistema financeiro ainda está apenas começando. Mas uma coisa é clara: as instituições que souberem interpretar esses movimentos sairão na frente.
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Produzido por Tatiana Pinheiro, economista-chefe da Galapagos Capital